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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Os atalhos nas religiões

"Porque virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade". 2 Timóteo 4:3-4


“DESDE ÉPOCAS antigas o homem terreno parece desenvolver uma certa tendência para criar atalhos na grande caminhada evolutiva. Ao analisar os passos da vossa civilização, é comum encontrá-lo dando voltas em torno da verdade e da proposta do Alto para o progresso dos povos.

Nabucodonosor, Alexandre, o Grande, Cipião, o Africano, Nero, Hitler e tantos outros representam atalhos perigosos na história dos povos terrestres. A própria Igreja não se furtou aos caminhos mal resolvidos de sua história. Quando o Cristianismo estava na fase áurea e os ensinamentos do Mestre eram ainda observados em sua pureza primitiva, os dirigentes humanos entraram pelo atalho do papado, unindo a Igreja ao estado e produzindo os lamentáveis enganos dos quais até hoje a vossa humanidade não conseguiu se livrar.

As doutrinas criadas e admitidas como verdades, mas que desfiguravam a pureza do Evangelho, acabaram por desviar a rota da igreja cristã. O caminho tomado então foi de grandes lutas travadas ao longo dos séculos. A verdade foi nublada, e outras estradas foram apresentadas à humanidade. A simplicidade do meigo Rabi Nazareno foi desfigurada pelas filosofias humanas, e a inspiração das grandes almas, substituída pelos instintos agressivos que marcaram as épocas passadas da história da religião na Terra.

Surgiram no cenário da Igreja as figuras de Francisco de Assis, Martinho Lutero e tantos outros espíritos que iluminaram o vosso mundo com as cintilações das estrelas, apresentando aos habitantes do orbe a proposta renovadora e de renovação interior. Surgiu a oportunidade de reavaliar a caminhada do homem e de ressuscitar a doutrina amorosa do meigo galileu. Essa época representou uma virada nos conceitos e caminhos tortuosos que a Igreja palmilhou ao longo de séculos. Entretanto, mais uma vez o homem terrestre procurou por atalhos e virou a esquina errada, ocasião em que desfigurou o conhecimento trazido pelo Alto. Pretendeu inovar e não renovou a sua busca pelo caminho do bem.

Acabou por sintonizar-se com espíritos menos esclarecidos, e a humanidade entrou novamente num período de trevas morais, em que a guerra, mais uma vez, veio marcar as frontes dos filhos da Terra. Era necessário que o Plano Superior interviesse na história, e assim nasceu a Doutrina Consoladora, como âncora segura para a embarcação frágil dos destinos humanos. A Doutrina Espírita apresentava a solução para os magnos problemas da humanidade e restaurava, com Allan Kardec, a pureza e simplicidade dos ensinamentos do Mestre.

Mais uma vez a humanidade se encontrava à frente de um novo caminho. Uma nova rota era apresentada ao homem. Paralelamente ao Espiritismo, surgiu uma multiplicidade de ideias espiritualistas, doutrinas orientalistas e outras, que, como no segundo século da história da Igreja, ameaçavam a simplicidade dos preceitos espirituais. Tais movimentos e doutrinas acabaram por encantar pessoas que não têm por hábito se preparar através do estudo metódico e disciplinado.

Nas igrejas reformadas surgiu uma espécie de avivamento espiritual, que deslumbrou a multidão de fiéis. Era o descobrimento dos carismas, dos dons espirituais, que, considerados como um batismo de fogo, inauguraram o movimento pentecostal no seio da igreja protestante. O Cristo histórico cedeu lugar às experiências místicas das igrejas renovadas, em que os fiéis se embriagam nas promessas espirituais e a igreja se abala em meio aos cânticos, às línguas estranhas e aos gritos dos missionários.

A Igreja Católica deu a sua resposta a esse movimento perturbador, que ameaçava o seu poder. Muitos fiéis católicos, sentindo-se atraídos pelo fogo renovador dos protestantes, abandonavam as fileiras de sua religião e, em meio aos gritos e gemidos da manifestação pentecostal, mudavam de lado, assumindo a nova religião. A igreja secular não poderia ficar para trás. Surgiu então o movimento carismático da Igreja Católica, uma outra renovação espiritual, que, acompanhando a nova moda, se unia aos protestantes, na esperança de reacender a fé dos fiéis de Roma. Os católicos experimentam o "batismo de fogo", e a Santa Sé foi abalada pelos gritos de aleluia dos novos filhos carismáticos. O misticismo invade a Igreja, e as imagens do papa e de Maria são elevadas ao altar da renovação espiritual da igreja romana. A experiência mística é exaltada de tal maneira que o Cristo histórico é praticamente esquecido. O extremismo e o fanatismo são observados como resultado da manifestação descontrolada da multidão.

O movimento New Age, desde a década de 60, também lançou suas raízes nos corações dos homens da Terra. Promessas de auto realização e de conquista da força mental ressuscitaram com as doutrinas esoteristas, que começaram a sua obra em todas as latitudes da Terra. A humanidade presenciou uma invasão de cristais, luzes e câmaras coloridas, incensos e rituais estranhos, movimentos de libertação, métodos de cura milagrosos e infalíveis e promessas de uma experiência transcendental que encontrou ressonância no coração do povo despreparado para a simplicidade da vida espiritual. Os templos antigos foram substituídos pelos consultórios de cartomantes, tarólogos e pseudomédiuns, que passaram a receber a canalização de pretensas entidades de elevada hierarquia espiritual.

Estranho em meio a isso tudo é que até mesmo o movimento espírita se viu abalado com a onda de magnetismo místico que invadiu a humanidade. Os templos espíritas passaram a ser reformados e abrigar câmaras e luzes coloridas, na tentativa de substituir os métodos espíritas pelas novidades espiritualistas da atualidade. A simplicidade dos passes foi, em muitos casos, substituída pelos cristais e por sons estranhos, que companheiros desprevenidos admitiram em muitos centros, como símbolo de uma pretensa espiritualidade. Allan Kardec e seus ensinos permanecem ignorados por muitos de seus seguidores na atualidade.

O movimento espírita está vivendo momentos de crise. E preciso urgentemente retornar às bases, antes que sejam desfigurados os ensinamentos dos espíritos superiores e o movimento perca a essência da doutrina. Kardec precisa ser estudado e vivido, para que a busca do poder e dos modismos nos arraiais espiritistas não macule a simplicidade e objetividade dos conceitos e práticas espirituais. A ânsia de domínio no movimento espírita promove a desunião dos centros e a desconfiança do povo nos dirigentes. Os títulos e as posições no movimento atraem aqueles que, à semelhança dos antigos fariseus, se assentam na cadeira de Moisés, esquecendo-se do que o eminente Codificador disse: que o Espiritismo não tem chefes.

Estará o movimento espírita tomando um novo atalho? Só o futuro poderá nos responder. Como disse Léon Denis, um dos mais lúcidos representantes do pensamento kardequiano, o Espiritismo será, no futuro, aquilo que os homens fizerem dele. Enquanto isso, permaneçamos fiéis à prática de amor onde estivermos, rogando as bênçãos de Jesus para os seus modernos discípulos, a fim de que a unificação em torno do ideal espírita seja o reflexo da união de todos em torno de Kardec.

Estejamos confiantes de que Jesus, o divino amigo de nossas almas, permanecerá em nós, na medida exata em que permanecermos nele.”
“Gestação da Terra” – Alex Zarthú/ Robson Pinheiro
Casa dos Espíritos Editora


Assim como as demais religiões sofreram com os atalhos percorridos, a Umbanda também se enveredou pelo mesmo caminho, sim, pois quando remontamos o surgimento desta religião podemos enxergar nitidamente o estudo sendo colocado como primordial nas tendas umbandistas criadas e mantidas pelo Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, assim como o texto acima relata o despreparo e a falta de compromisso com o estudo e a causa que decidem  abraçar, o mesmo também passa a ocorrer na Umbanda, dirigentes e médiuns dando vazão a sua preguiça começam a alegar que os guias é quem passam os ensinamentos, passando então a atrofiar seu conhecimento, criando a dependência dos guias para tudo ao invés da saudável parceria.

Não tendo estudo não é necessário ser portador de grande inteligência para prever a derrocada daqueles que seguem por este caminho, inclusive da própria religião de Umbanda, onde nos dias atuais ainda vemos coisas absurdas sendo realizadas por aí em nome dessa religião. Porém, a ideia de atalho no momento atual em que passamos vai mais longe ainda, como previsto pelo Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, onde afirmou:

“É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.”

Tais previsões vêm ocorrendo nos dias atuais, onde é curso disso e daquilo outro, inclusive são vendidos cursos em que seria impossível que o médium recebesse tais títulos em tão pouco tempo de vivência e estudo, vejamos aí as pessoas buscando os títulos da terra, a fim de encher os olhos dos imediatistas, e deixando de lado a vivência com seus guias espirituais, o seu amadurecimento natural que é fruto de sua busca e conquista do seu espírito frente às experiências vividas. Vejam que o atalho também surge dentro da nossa Umbanda, e não estamos aqui com o intuito de agredir quem assim atue na sua vida, respeitamos a todos, porém, respeitar não significa concordar. E acreditamos ser necessário que todos nós busquemos rever tudo que foi falado aqui e dentro do bom senso analisar nossa postura frente aos atalhos que temos buscado a título de espiritualização.


E assim repetimos a frase Alex Zarthú já mencionada neste texto: 

“Estejamos confiantes de que Jesus, o divino amigo de nossas almas, permanecerá em nós, na medida exata em que permanecermos nele.”