"Porque virá o tempo em que
não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de
mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade". 2 Timóteo 4:3-4
“DESDE ÉPOCAS antigas o homem
terreno parece desenvolver uma certa tendência para criar atalhos na grande caminhada
evolutiva. Ao analisar os passos da vossa civilização, é comum encontrá-lo
dando voltas em torno da verdade e da proposta do Alto para o progresso dos
povos.
Nabucodonosor, Alexandre, o
Grande, Cipião, o Africano, Nero, Hitler e tantos outros representam atalhos
perigosos na história dos povos terrestres. A própria Igreja não se furtou aos
caminhos mal resolvidos de sua história. Quando o Cristianismo estava na fase
áurea e os ensinamentos do Mestre eram ainda observados em sua pureza
primitiva, os dirigentes humanos entraram pelo atalho do papado, unindo a
Igreja ao estado e produzindo os lamentáveis enganos dos quais até hoje a vossa
humanidade não conseguiu se livrar.
As doutrinas criadas e admitidas
como verdades, mas que desfiguravam a pureza do Evangelho, acabaram por desviar
a rota da igreja cristã. O caminho tomado então foi de grandes lutas travadas
ao longo dos séculos. A verdade foi nublada, e outras estradas foram
apresentadas à humanidade. A simplicidade do meigo Rabi Nazareno foi
desfigurada pelas filosofias humanas, e a inspiração das grandes almas,
substituída pelos instintos agressivos que marcaram as épocas passadas da
história da religião na Terra.
Surgiram no cenário da Igreja as
figuras de Francisco de Assis, Martinho Lutero e tantos outros espíritos que
iluminaram o vosso mundo com as cintilações das estrelas, apresentando aos
habitantes do orbe a proposta renovadora e de renovação interior. Surgiu a
oportunidade de reavaliar a caminhada do homem e de ressuscitar a doutrina
amorosa do meigo galileu. Essa época representou uma virada nos conceitos e
caminhos tortuosos que a Igreja palmilhou ao longo de séculos. Entretanto, mais
uma vez o homem terrestre procurou por atalhos e virou a esquina errada,
ocasião em que desfigurou o conhecimento trazido pelo Alto. Pretendeu inovar e
não renovou a sua busca pelo caminho do bem.
Acabou por sintonizar-se com
espíritos menos esclarecidos, e a humanidade entrou novamente num período de
trevas morais, em que a guerra, mais uma vez, veio marcar as frontes dos filhos
da Terra. Era necessário que o Plano Superior interviesse na história, e assim
nasceu a Doutrina Consoladora, como âncora segura para a embarcação frágil dos
destinos humanos. A Doutrina Espírita apresentava a solução para os magnos
problemas da humanidade e restaurava, com Allan Kardec, a pureza e simplicidade
dos ensinamentos do Mestre.
Mais uma vez a humanidade se
encontrava à frente de um novo caminho. Uma nova rota era apresentada ao homem.
Paralelamente ao Espiritismo, surgiu uma multiplicidade de ideias
espiritualistas, doutrinas orientalistas e outras, que, como no segundo século
da história da Igreja, ameaçavam a simplicidade dos preceitos espirituais. Tais
movimentos e doutrinas acabaram por encantar pessoas que não têm por hábito se
preparar através do estudo metódico e disciplinado.
Nas igrejas reformadas surgiu uma
espécie de avivamento espiritual, que deslumbrou a multidão de fiéis. Era o
descobrimento dos carismas, dos dons espirituais, que, considerados como um
batismo de fogo, inauguraram o movimento pentecostal no seio da igreja
protestante. O Cristo histórico cedeu lugar às experiências místicas das
igrejas renovadas, em que os fiéis se embriagam nas promessas espirituais e a igreja
se abala em meio aos cânticos, às línguas estranhas e aos gritos dos
missionários.
A Igreja Católica deu a sua
resposta a esse movimento perturbador, que ameaçava o seu poder. Muitos fiéis
católicos, sentindo-se atraídos pelo fogo renovador dos protestantes, abandonavam
as fileiras de sua religião e, em meio aos gritos e gemidos da manifestação
pentecostal, mudavam de lado, assumindo a nova religião. A igreja secular não
poderia ficar para trás. Surgiu então o movimento carismático da Igreja
Católica, uma outra renovação espiritual, que, acompanhando a nova moda, se
unia aos protestantes, na esperança de reacender a fé dos fiéis de Roma. Os
católicos experimentam o "batismo de fogo", e a Santa Sé foi abalada
pelos gritos de aleluia dos novos filhos carismáticos. O misticismo invade a Igreja,
e as imagens do papa e de Maria são elevadas ao altar da renovação espiritual
da igreja romana. A experiência mística é exaltada de tal maneira que o Cristo
histórico é praticamente esquecido. O extremismo e o fanatismo são observados
como resultado da manifestação descontrolada da multidão.
O movimento New Age, desde a
década de 60, também lançou suas raízes nos corações dos homens da Terra.
Promessas de auto realização e de conquista da força mental ressuscitaram com
as doutrinas esoteristas, que começaram a sua obra em todas as latitudes da
Terra. A humanidade presenciou uma invasão de cristais, luzes e câmaras
coloridas, incensos e rituais estranhos, movimentos de libertação, métodos de
cura milagrosos e infalíveis e promessas de uma experiência transcendental que
encontrou ressonância no coração do povo despreparado para a simplicidade da
vida espiritual. Os templos antigos foram substituídos pelos consultórios de cartomantes,
tarólogos e pseudomédiuns, que passaram a receber a canalização de pretensas
entidades de elevada hierarquia espiritual.
Estranho em meio a isso tudo é
que até mesmo o movimento espírita se viu abalado com a onda de magnetismo místico
que invadiu a humanidade. Os templos espíritas passaram a ser reformados e
abrigar câmaras e luzes coloridas, na tentativa de substituir os métodos
espíritas pelas novidades espiritualistas da atualidade. A simplicidade dos passes
foi, em muitos casos, substituída pelos cristais e por sons estranhos, que
companheiros desprevenidos admitiram em muitos centros, como símbolo de uma
pretensa espiritualidade. Allan Kardec e seus ensinos permanecem ignorados por
muitos de seus seguidores na atualidade.
O movimento espírita está vivendo
momentos de crise. E preciso urgentemente retornar às bases, antes que sejam desfigurados
os ensinamentos dos espíritos superiores e o movimento perca a essência da
doutrina. Kardec precisa ser estudado e vivido, para que a busca do poder e dos
modismos nos arraiais espiritistas não macule a simplicidade e objetividade dos
conceitos e práticas espirituais. A ânsia de domínio no movimento espírita
promove a desunião dos centros e a desconfiança do povo nos dirigentes. Os títulos
e as posições no movimento atraem aqueles que, à semelhança dos antigos
fariseus, se assentam na cadeira de Moisés, esquecendo-se do que o eminente
Codificador disse: que o Espiritismo não tem chefes.
Estará o movimento espírita
tomando um novo atalho? Só o futuro poderá nos responder. Como disse Léon
Denis, um dos mais lúcidos representantes do pensamento kardequiano, o
Espiritismo será, no futuro, aquilo que os homens fizerem dele. Enquanto isso,
permaneçamos fiéis à prática de amor onde estivermos, rogando as bênçãos de
Jesus para os seus modernos discípulos, a fim de que a unificação em torno do
ideal espírita seja o reflexo da união de todos em torno de Kardec.
Estejamos confiantes de que
Jesus, o divino amigo de nossas almas, permanecerá em nós, na medida exata em
que permanecermos nele.”
“Gestação da Terra” –
Alex Zarthú/ Robson Pinheiro
Casa dos Espíritos
Editora
Assim como as demais religiões
sofreram com os atalhos percorridos, a Umbanda também se enveredou pelo mesmo
caminho, sim, pois quando remontamos o surgimento desta religião podemos
enxergar nitidamente o estudo sendo colocado como primordial nas tendas umbandistas
criadas e mantidas pelo Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, assim como o
texto acima relata o despreparo e a falta de compromisso com o estudo e a causa
que decidem abraçar, o mesmo também
passa a ocorrer na Umbanda, dirigentes e médiuns dando vazão a sua preguiça
começam a alegar que os guias é quem passam os ensinamentos, passando então a
atrofiar seu conhecimento, criando a dependência dos guias para tudo ao invés
da saudável parceria.
Não tendo estudo não é necessário
ser portador de grande inteligência para prever a derrocada daqueles que seguem
por este caminho, inclusive da própria religião de Umbanda, onde nos dias
atuais ainda vemos coisas absurdas sendo realizadas por aí em nome dessa
religião. Porém, a ideia de atalho no momento atual em que passamos vai mais
longe ainda, como previsto pelo Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, onde
afirmou:
“É preciso haver sinceridade,
honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda
vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde,
expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.”
Tais previsões vêm ocorrendo nos
dias atuais, onde é curso disso e daquilo outro, inclusive são vendidos cursos
em que seria impossível que o médium recebesse tais títulos em tão pouco tempo
de vivência e estudo, vejamos aí as pessoas buscando os títulos da terra, a fim
de encher os olhos dos imediatistas, e deixando de lado a vivência com seus
guias espirituais, o seu amadurecimento natural que é fruto de sua busca e conquista
do seu espírito frente às experiências vividas. Vejam que o atalho também surge
dentro da nossa Umbanda, e não estamos aqui com o intuito de agredir quem assim
atue na sua vida, respeitamos a todos, porém, respeitar não significa
concordar. E acreditamos ser necessário que todos nós busquemos rever tudo que
foi falado aqui e dentro do bom senso analisar nossa postura frente aos atalhos
que temos buscado a título de espiritualização.
E assim repetimos a frase Alex
Zarthú já mencionada neste texto:
“Estejamos confiantes de que Jesus, o divino
amigo de nossas almas, permanecerá em nós, na medida exata em que permanecermos
nele.”