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domingo, 30 de setembro de 2018

Resgate Kármico é sofrimento?

Quando se fala em karma dentro do meio espiritualista, das diversas filosofias e religiões que acreditam nesse conceito, notamos uma certa conotação pessimista e que nos leva a pensar nessa palavra sempre a enxergar sofrimento. Mas será que realmente compreender e falar sobre o karma é abordar o assunto dessa forma?




Para refletir em cima desse conceito, achamos interessante e inteligente dividir com todos os leitores do blog uma passagem que pertence a obra "Espírito e Matéria: Novos Horizontes para a Medicina", elaborada por José Lacerda, que nos cita que o processo de resgate kármico tem algumas etapas, eis algumas delas:

"5.1.1 Conhecimento da desarmonia produzida

A "dívida" (falta cometida contra outros seres ou contra o próprio faltoso) deve ser resgatada até o último "centavo". Para que seja paga, é preciso que o devedor saiba o valor dela.

O processo evolutivo desenrola-se através dos tempos, e o ser passa por sucessivas e inúmeras etapas encarnatórias, em que perde a memória do seu passado. Como então, poderá ele saber a quantidade e o valor de erros praticados, tanto mais que há os cometidos em passado longínquo?

Tal pergunta, conquanto aparentemente lógica, denota desconhecimento do processo aprimorativo regido pelo Princípio da Evolução. Tudo que se conquistou por ato volitivo (isto é, por esforço consciente) não se perde: foi armazenado em nossa Essência, no espírito imortal; em outras palavras, as experiencias  positivas ou negativas (o mesmo que harmônicas ou desarmônicas) gravam-se magneticamente nos bancos de memória do cérebro espiritual do indivíduo. Por essa razão, qualquer ser humano encarnado sabe perfeitamente todos os erros que cometeu em qualquer época de sua vida consciente. Seu cérebro físico não sabe o que ele praticou em existências pretéritas, mas o Espírito conhece tudo; isso explica a diversidade de temperamentos, as tendencias más ou boas que todos os homens manifestam desde a infância.

Os homens são diferentes uns dos outros, porque herdam de si próprios os temperamentos que lhes conferem características ímpares. Verdadeira nota tônica pessoal e distinta - patrimônio adquirido através das experiencias vivenciadas tempos afora - um temperamento imutável caracteriza cada ser humano. Na manifestação desse temperamento, varia apenas o caráter, enriquecido ou empobrecido por novos valores e experiencias, na abrasão do polimento educativo de cada estágio encarnatório.

5.1.2 Aquiescência em resgatá-la

Toda criatura humana anseia pela paz, pela harmonia, pela felicidade. O temor da morte, da dor, do sofrimento é constante atávica inerente ao homem em suas etapas inferiores de evolução. Daí a necessidade de evoluir, de ter paz, de alcançar uma felicidade que busca até as raias da insensatez. A princípio, pensa-se que tal ventura pode ser alcançada com aquisição de bens materiais: é a fase da corrida atrás do dinheiro. Nessa etapa infantil da evolução, o homem é predador; abusa da agressividade, fere todos quantos ousam por limites a sua ação possessiva. Com isso, espalha a seu redor mais desarmonias que benefícios. O saldo negativo acumulado nesses desvarios imediatistas fará com que mais tarde, em outras encarnações, ele compreenda que nada de útil lhe restou de tudo que fez de perturbação, a não ser o anátema dos que sofreram em suas mãos e cuja dor, então, requeima a sua consciência. Em nova vivencia encarnatória, ele será criatura intimamente amargurada, pois o mal gera o mal.

Em certo momento de sua evolução, o homem sente a necessidade de harmonizar-se intimamente: a carga negativa acumulada na memória espiritual obriga-o a sentir a urgência de uma mudança de rumo em sua existência; conscientiza-se, então, de que os valores a serem adquiridos devem ser outros - e não os materiais. Nessa fase, está em condições de enfrentar com estoicismo e sem revolta as adversidades que ele mesmo provocou. Aquiesce, por isso, em resgatar erros.

Mas como se sabe que uma criatura está disposta a resgatar seus erros? Reconhece-se isso pela resignação frente ao sofrimento, que, muitas vezes, acontece inesperadamente. Os conformados com situações irreversíveis, com dores físicas ou morais, provam sua disposição em resgatar adversidades semelhantes, provocadas por eles mesmo no destino de outras criaturas, em passado distante.

Os que se revoltam contra o sofrimento e deblateram contra a Divindade, clamando pela "injustiça" que sofrem, esses não querem nem podem resgatar nada, pois não se consideram devedores; portanto, ainda não se encontram no ponto do despertar de consciência. Somente a repetição de experiencia em faixas de desarmonia haverá de fazer com que suas consciências desabrochem.

5.1.3 Valor da desarmonia

Todas as desarmonias em que as criaturas se debatem constituem sofrimento passivo, através do qual elas tomam conhecimento do processo kármico e das dívidas a resgatar durante a existência.

Geralmente se pensa que é pelo sofrimento que o homem resgata os males que praticou em seu passado remoto. Redondo engano! O sofrimento apenas dá a medida dos erros cometidos, jamais serve de moeda para o pagamento qualquer de culpa. Que lógico é essa em que a dor do culpado provoca o pagamento de culpa? Deus, então, seria sádico?

Realmente, seria bastante estranho que o sofrimento suportado passivamente - um olho vazado, por exemplo - servisse para repor o olho furado do inimigo de existências anteriores. Não se pode conceber que a justiça divina seja tão primária. Teríamos a consagração da lei do Talião, como o "olho por olho e dente por dente" se perpetuando como a moeda de Deus para os reajustes de culpas.

Com efeito, Deus que é justiça absoluta, bondade em superlativo, pureza sem jaça, deve ter outros meios de aplicar Sua justiça infinita. Na Harmonia Absoluta, não pode se incluir a dor, contrária a Sua natureza.

A dor é mero indicador. Ela apenas aponta o "quantum" de desarmonia praticada: por meio dela, o ser humano aprende que não deve lesar seu semelhante. O sofrimento, portanto, é educativo, serve como experiencia para que erros não se repitam. Em suma, a dor ensina o amor."
(Cap. 5 - KARMA, A GRANDE LEI CÓSMICA).