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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Bom senso ou Perseguição religiosa?

Na data de hoje, sexta-feira, 20/02/2015, nos deparamos com uma reportagem, publicada na Zero Hora, que trata a respeito de uma lei proposta que visa proibir o sacrifício de animais na Umbanda e nos cultos afro-brasileiros. Aqueles que propuseram essa lei afirmam estarem defendendo os direitos dos animais e informando aos praticantes de tais cultos que a humanidade já evoluiu ao ponto de abandonar os sacrifícios nas práticas religiosas, alegam também, que ao serem despachados animais mortos e grandes oferendas nas vias públicas, isso se torna uma agressão ao meio ambiente e ao livre arbítrio daqueles que passam em tais vias.


Em primeiro lugar notamos um grave erro nessa notícia, que a Zero Hora trouxe ao público, onde por ignorância incluíram o nome da Umbanda como uma religião que traz na sua prática o sacrifício animal, entretanto, nós umbandistas sabemos que na nossa religião não é permitido quaisquer práticas de manuseio de sangue ou sacrifício animal. Somente com pequeno estudo histórico a cerca da Umbanda, qualquer um vai enxergar e atestar com fatos e provas históricas que o Senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas, ao fundar a religião de Umbanda no Brasil, proibiu a prática de quaisquer sacrifícios animais e todas e quaisquer cobranças materiais nos trabalhos espirituais.

Porém, embora alguns sacerdotes e religiosos que realizam o sacrifício animal em seus cultos, afirmem praticar a Umbanda, os mesmos se encontram exercendo qualquer outra religião, menos a Umbanda. É ai que enxergamos a grande falta de esclarecimento por cerca da população que insiste em colocar todos os cultos afro-brasileiros e práticas religiosas que se utilizem da mediunidade dentro de uma mesma panela, acabando por dar um mesmo nome a todas, e dentre elas se encontra a Umbanda, que ficou mal compreendida por essas conclusões precipitadas.

Concordamos com alguns pontos ditos em tal reportagem, entre eles, consideramos total falta de bom senso e respeito colocarem ditas oferendas, animais mortos nas vias públicas e locais da natureza, pois a nosso ver, nada de sagrado há nessas práticas, onde esses praticantes deixam lixos, comidas e animais mortos ao céu aberto apodrecendo nos locais que dizem serem sagrados. Acreditamos que seria muito correto de se criar uma lei que proíba e multe a atitude de colocar estes lixos nas vias públicas, e principalmente nos pontos da natureza, o religioso que queira se direcionar às forças que cultua, primeiramente deve ter entendimento das mesmas e conseguir separar atitudes profanas de atitudes sagradas, se a pessoa deseja realizar uma oferenda a alguma força sagrada, que ela faça isso dentro de seu local religioso e, se por algum motivo, tiver necessidade de se ligar a Deus em meio a natureza, que respeite a mesma, retirando tudo o que trouxe para oferecer na sua prática religiosa.

Por outro lado, proibir o sacrifício animal dentro dos cultos de nação, candomblé, dentre outros, seria uma atitude bastante hipócrita, pois sabemos que dentro de cultos religiosos sérios, tais práticas são feitas de maneira a não agredir o meio ambiente, as mesmas não são realizados a todos e quaisquer direitos, somente em situações extraordinárias, e onde a carne dos animais é utilizada com fim de alimentar os praticantes e seus frequentadores, alguns até a própria comunidade. Hipócrita porque teríamos de entrar em um mérito que engloba todos e quaisquer atos de morte a vida animal, e dentro disso se encaixariam todas as criações de gados, suínos, aviários, que direcionam esses animais à sua morte, que muitas vezes acontece com muita dor, em grandes quantidades, muito maiores dos que as realizadas em ditos sacrifícios animais. Entrar neste mérito exigiria de toda a população adotar uma postura de vida vegana ou vegetariana, já que o principal motivo é a defesa da vida dos animais, é óbvio.

Não estamos aqui fazendo uma apologia ou defendendo o sacrifício animal, até porque, aos nossos olhos, não concordamos com essa postura, mas a respeitamos, entendendo que cada um tem a sua concepção de vida e se encontra em determinado grau evolutivo, acreditando assim que tais atos são uma maneira sagrada de se comunicar e se ligar a Deus. Cabe salientar, repeitar é diferente de concordar.

Existe um outro porém que enxergamos na criação desta lei, onde todos nós sabemos que em diversos gabinetes da política estão presentes homens religiosos, que em muitas vezes, pretendem moldar a política e a vida social das pessoas que vivem no seu país de acordo com a fé que os mesmos professam, passando por cima da liberdade religiosa das diversas camadas da população. Queremos aqui alertar a todos que tomarem conhecimento deste acontecimento e pedir para que possamos refletir a respeito dessa atitude inusitada. 

Digamos que essa lei seja aprovada, como se daria o controle dos milhares e milhares de terreiros que estão espalhados no nosso estado, onde na sua maioria não possuem CNPJ? Como seriam catalogados esses terreiros, tendo em vista que diversos cultos diferentes são praticados nesses locais? Como um órgão público dedicado a essa fiscalização saberia diferenciar as diversas práticas religiosas encontradas nesses locais, sabendo que a maioria da população brasileira não sabe diferenciar o que é Macumba, Catimbó, Candomblé, Nação e Umbanda?

Será que essa suposta defesa dos animais não seria um pretexto para voltarmos aos tempos de perseguição religiosa, que já vivenciamos no nosso Brasil, onde as mesmas eram patrocinadas pelas grandes religiões que manipulam o poder aquisitivo do nosso país? Não estaríamos presenciando um “Dejá-vu” na história da nossa nação, voltando aos tempos das batidas policiais aos diversos terreiros, de diversas práticas religiosas que não se encaixam na maneira evangélica/católica de entender a vida? Não estaríamos vivendo uma nova ditadura nesse novo milênio?

Eis de se pensar não é mesmo?


Link da reportagem: