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quarta-feira, 18 de março de 2015

O que é normal?

Viemos aqui neste post, nos fazer refletir a respeito do nosso comportamento perante o diferente. Como nos comportamos ao enxergar uma realidade diferente da nossa, seja no jeito de viver a vida, vestir-se, expressar a fé, o amor ou seus ideais? O que seria algo normal ou diferente? Será que existe isso?







O que é algo normal? O que seria uma situação normal? Existem pessoas normais, formas de viver normais, culturas e conceitos normais?

A palavra normal vem do latim "normalis" que significa "de acordo com a regra", tem seus sinônimos em corriqueiro, regular, costumeiro, habitual. Parando para pensar no significado desta palavra, analisemos que constantemente o ser humano utiliza este adjetivo para classificar situações que normalmente são julgadas como bem vistas ou corretas, mas se utilizarmos esta palavra, nos significados de seus diversos sinônimos, podemos ver que algo corriqueiro, costumeiro ou habitual, nem sempre provém de situações ou hábitos corretos. Por exemplo, alguém que costumeiramente se embriaga para fugir da realidade, ou alguém que, habitualmente julga estar em risco ao andar por uma rua durante a noite, estando na companhia de um homem de pele negra, que não esteja vestindo um traje formal.

Podemos citar diversas situações para o emprego desta palavra normal e seus diversos significados aliados aos sinônimos, em que a mesma não representará algo de bom ou correto. Então por que insistimos em utilizar essa palavra, na maioria das vezes, para estipular o certo e o errado? Porque classificamos padrões e posturas de vida, de diferentes indivíduos, como normal ou anormal, tendo como objetivo classificar como certo ou errado, virtude ou defeito, agrado ou pecado?

Constantemente vivenciamos situações em nosso dia-a-dia que nos mostram o quanto é falha esta palavra, empregada de maneira a classificar o certo ou o errado, quando ouvimos alguém dizer que não é normal uma pessoa se sentir atraída, se relacionar sexualmente, amar ou ter um afeto com outra pessoa do mesmo sexo. As mesmas pessoas que afirmam isso, muitas vezes anteriormente estavam falando que não são homofóbicas, que respeitam os homossexuais e que não tem problema nenhum com eles. Como assim? Ora, porque um ser humano não poderia ter relações, das mais diversas, com outro ser humano, independente do sexo? Fisicamente é possível, emocionalmente também, o que precisa mais?

No tocante a homossexualidade, quando falamos sobre isso existem aqueles que dizem que duas pessoas do mesmo sexo não podem gerar uma vida, e por isso não é correto. Se olharmos na natureza, no reino animal, vemos diversos casos de espécies que se relacionam entre o mesmo sexo, e se julgarmos isso errado, então Deus é falho na sua criação, ou nós que somos super intendentes da psique animal? Qual ser humano já revelou e esmiuçou todas minúcias da psique e dos comportamentos dos seres vivos?

Então só é normal se sentir atraído por uma pessoa do sexo oposto, pois ai podemos nos relacionar e reproduzir a espécie? Quem estipulou isso? Onde está essa norma? Por acaso um homem, que diz amar e se relaciona saudavelmente com outro homem, não pode demonstrar muito mais respeito e carinho pelo seu companheiro, do que muitos casais "normais" que existem por ai? Que falso moralismo é esse que sentimos a necessidade de manifestar quando lidamos com questões que não compreendemos ainda? Muitas vezes escutamos discursos moralistas que defendem a "boa família", a "família tradicional", que é aceita por Deus, e que se dizem atacadas e ameaçadas pela "doença" dos gays. Ué, se fossem boas famílias, aceitas por Deus, serenas em sua convicção e fé, não temeriam mal algum, pois "o Senhor é meu Pastor e nada me faltará..." ou ainda "Ainda que ande pelo vale da sombra, não temerei mal algum...". Onde se encontra a auto-confiança e a fé em Deus quando se deparam com o diferente e o desconhecido, julgando-o logo como perigo e risco?

Onde se encontra o bom homem e pai de família, da família tradicional, que quando passa por uma mulher bela logo se excita, "anota a placa", quando não pensa alguma coisa tal como "nooossssa, oh lá em casa! Gostosa!"? Onde se encontra o nobre "pai da família normal", que quando vê um casal de homens se beijando, os agride, grita, cospe, afirmando ser um ultraje, mas na sua intimidade, guarda grandes "fetiches" em ter uma relação sexual com duas mulheres, ou até mesmo, guarda fortes conflitos de épocas em sua vida que teve alguma experiência homoafetiva durante seu processo de auto-descobrimento?

Pegando por um aspecto social/cultural, podemos analisar o que seria normal? Onde numa dada região do nosso planeta ter um harém de esposas não ofende a Deus, nem a sociedade, sendo até motivo de fama e prestígio para alguns, enquanto em outra região isto é um grande pecado. E quando em um país, sacrificar um animal, louvando a forças divinas, agradecendo por aquela fonte de alimento ou de cura a Deus, é totalmente normal e bem visto, enquanto em outra região do mundo é um ato de crueldade, horror e descaso com a vida, mas nessa mesma região, os que assim pensam, se alimentam de entranhas, fígado, coração e diversas partes de animais, bem temperadas, bem ou mal passadas, tendo como o único diferencial a forma de abate desses animais que servem de alimento.

Indo mais a fundo, apenas voltando alguns séculos atrás, víamos sociedades inteiras tendo como algo normal o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, até mesmo como forma de ser descolado e aproveitar a vida. Analisemos que o que se considera normal em uma época, em outra já não é mais considerado, ou o que é normal em um contexto cultural, na mesma época, no mesmo planeta, para outros não o é.

Será que é correto, utilizar essa palavra "normal" para classificar coisas como certas ou erradas?

Normalmente o que vemos são pessoas que se utilizam dessa maneira de classificação, que por detrás de suas diversas máscaras, carregam preconceitos, fobias, dúvidas e descrença nelas mesmas, e que projetam tudo isso em seus julgamentos pré-concebidos, sem nenhuma estrutura, baseado em "achismos". O que menos falta no nosso mundo são pessoas que se esquecem de cuidar das suas vidas, em aspectos físicos, materiais, emocionais e mentais, se ocupado em analisar, catalogar e detalhar a vida alheia.

Vivemos em um mundo onde a única coisa que não muda é a constante mudança. Estamos inseridos em um planeta rico em diversidade onde a mesma é o motivo de tanta abundância para todas as raças e espécies, se aplicamos essa abundância corretamente ou não, é outra questão. Classificar pessoas e nações, com seus diversos conceitos de vida, é um dos maiores erros, que causam os maiores conflitos humanos.


Paremos um pouco de classificar, separar, apontar e achar tanta coisa, e vivenciemos mais essa riqueza de diferenças, que na sua origem foi planejada para nos unir, tal qual um quebra-cabeças, que com suas diferentes peças, quando se encontra em harmonia, cria os mais belos cenários.