Desenvolvimento mediúnico, como se procede? Ocorre de maneira mecânica, sem esforço do algum do médium? O problema do desenvolvimento é culpa do centro? Quais os fatores que fazem parte do mesmo? São perguntas como essas que são respondidas no presente texto, trazido a vocês, pelo Luz na Umbanda.
Todos já ouviram falar que a mediunidade é inerente ao ser
humano, isto é, todos em certo grau, são médiuns. Porém, diante da nossa falta
de compreensão perante a realidade espiritual, acabamos por eleger aqueles que
apresentam uma faculdade mediúnica mais expressiva, como pessoas santas, ou até
mesmo, eleitas de Deus, esquecendo-nos que são pessoas, ou ainda, espíritos
iguais a nós. Dessa forma, a mediunidade passou a ser cobiçada por muitos,
entretanto, somente pelos seus efeitos, e não pelo seu principal caráter, isto
é, servir de meio de comunicação entre encarnados e desencarnados como forma de
auxilio a evolução da humanidade.
Diante dessa realidade inegável, é possível observarmos nos
dias atuais muitas pessoas querendo ser médium, e em muitos casos, essa
tentativa se apresenta custosa e até difícil, levando alguns a descrerem na
realidade espiritual. Tal dificuldade, porém, se apresenta tanto para àqueles
que desejam praticar a caridade, como para os curiosos e levianos. E porque
isso ocorre? Por que, em muitas vezes, as faculdades mediúnicas demoram a ser
desenvolvidas? Isso seria um problema do centro onde o aspirante a médium está
frequentando, ou algum aspecto, dentro dele próprio, que não está permitindo
tal desenvolvimento ocorrer?
Muitas vezes achamos que ser médium é somente quando se
veste o branco, ou ainda, apenas quando estamos dentro do centro se preparando
para os trabalhos, entretanto, nos esquecemos que os aspectos da mediunidade
agem primeiramente no próprio médium, como nos diz Ramatís¹:
“A mediunidade, e principalmente a de prova, não é um dom
concedido pelo Alto para ser aproveitado de qualquer modo e a qualquer preço,
com o fito de “salvação” urgente da humanidade terrena. Ela é um recurso, ou
seja, um acréscimo divino concedido prematuramente para a melhoria espiritual
do próprio candidato a médium, geralmente bastante endividado pelas suas
imprudências do pretérito”.
Sendo assim, um dos pontos chave, e que em muitos casos não
é observado com a devida seriedade, que faz parte do desenvolvimento mediúnico
de todo o médium, é a reforma íntima, como podemos compreender no seguinte
texto extraído da apostila do curso “Mediunidade de Terreiro”²:
“Educar e desenvolver a mediunidade são aprender a usa-la.
Para que sejamos bem-sucedidos, devemos cultivar virtudes como a bondade, a
paciência, a perseverança, a boa vontade, a humildade e a sinceridade. A
mediunidade não se desenvolve de um dia para o outro, por isso, devemos ter
muita paciência. Sem perseverança, nada se alcança, pois o desenvolvimento
exige que sejamos sempre persistentes. Ter boa vontade é comparecer às sessões
espíritas com alegria e muita satisfação. A humildade é a virtude pela qual
reconhecemos que tudo vem de Deus e, se faltarmos com a sinceridade no
desempenho de nossas funções mediúnicas, mais cedo ou mais tarde sofrerão
decepções”.
Fica bem claro que o desenvolvimento moral do aspirante a
médium é imprescindível, caso contrário, estará exposto a decepções, estas que
são de fácil observação nas conversas com pessoas que culpam tudo e todos pela
dificuldade que encontram em seu desenvolvimento, mas que esquecem de ver como
têm conduzido sua vida fora das quatro paredes que cercam o terreiro. Outro
ponto importante, é que reconhecendo que tudo vem de Deus, devemos saber
confiar e esperar, pois não existe um tempo pré-determinado para o
desenvolvimento, isto é, não são 4, 8, ou 12 meses de prática que irão
determinar o desenvolver mediúnico de ninguém, pois cada um possui seu próprio
tempo, e devemos saber respeita-lo.
Quanto ao problema do desenvolvimento mediúnico ser
relacionado ao centro em que o médium se filiou, buscamos novamente nas sábias
palavras de Ramatís a resposta, que não poderia ser mais completa. Vejamos:
“Embora respeitando o método de desenvolvimento mediúnico
nos terreiros, que é bastante diferente (...) devemos dizer que em ambos os
casos o êxito não depende de maior ou menor desembaraço ou agitação física, mas
sim é dependente do conteúdo espiritual superior que o médium cardecista ou o
“cavalo” de umbanda tenham podido acumular e consolidar no seu espírito”.
“(...) Que vale um desenvolvimento mediúnico rápido e
fenomênico, se o médium ainda nada possui de útil e bom para ofertar ao
próximo? Porventura, não seria insensatez oferecer-se uma taça vazia àquele que
agoniza de sede?”
“(...) Como o desenvolvimento mediúnico não consiste numa
série de movimentos rítmicos, algo parecidos à ginástica física muscular, o
candidato a médium encontra no ambiente de trabalho espirítico a oportunidade
valiosa de apurar os seus atributos angélicos, muito antes de tornar-se um
intermediário fenomênico dos espíritos desencarnados.”
“Acontece, infelizmente, que o futuro candidato a médium,
ainda inconsciente das virtudes e dos atributos superiores que já incorporava
aos poucos em seu patrimônio espiritual e graças à demora do seu
desenvolvimento mediúnico, deixa-se dominar pela impaciência e abandona o banco
de sua escola espiritual preliminar, decidido a promover a eclosão miraculosa
de sua faculdade, embora seja ativada por estímulos inoportunos e fora de
tempo.”
Sendo assim, há locais sim, e não podemos dizer que não
existam, que não preparam os médiuns para os trabalhos mediúnicos devidamente,
entretanto, em sua grande maioria, os médiuns desejam alcançar o fenômeno sem
que haja necessidade do esforço no campo íntimo, porém, é essa reforma íntima e
dedicação que vai proporcionar o desenvolver dos médiuns, pois se trata de
etapa imprescindível no desenvolvimento mediúnico.
Portanto, continuemos firmes no caminho que escolhemos
seguir, embora a ansiedade de fazer a caridade junto de nossos guias às vezes
nos assalte os pensamentos, devemos ter fé na caminhada, respeitar nosso tempo,
buscar o amadurecimento dos princípios deixados pelo Mestre Jesus, ter dedicação
e buscar o estudo, a fim de sermos ferramenta afiada, preparados para sermos utilizados
pelas mãos firmes dos emissários do Alto.
Aproveitemos o tempo e a oportunidade de servir junto do
centro que nos acolhe, a fim de preparar-nos o terreno para a caminhada sem
tropeços, pois durante uma reunião não só aprendemos como também servimos, como
nos demonstra mais uma vez o irmão Ramatís:
“Junto à mesa cardecista, o aspirante a médium não desfruta
só do seu desenvolvimento mediúnico; ele também afina o seu sentimento fraterno
em favor dos necessitados, assim como conquista novas amizades benfeitoras,
tornando a mente receptiva aos conhecimentos técnicos sobre a mediunidade e aos
princípios salutares da doutrina espírita. Mesmo antes de exercer o seu mandato
mediúnico, ele desembaraça a língua na cooperação ao doutrinador da noite e
apura o seu juízo no entendimento psicológico da vida, para servir tanto aos
“mortos” como aos “vivos””.
Dessa forma, não devemos esmorecer diante de aparente demora
no nosso desenvolvimento mediúnico, mas que tenhamos confiança nos desígnios do
Pai, pois nenhuma dedicação e vontade sincera de fazer o bem passam
despercebidas aos olhos do Criador, “Há tempo para todo o propósito debaixo do
céu”³, portanto, aguarde seu momento com paciência e dedicação, pois agir dessa
maneira já é desenvolver-se mediunicamente, mas também acima de tudo, como ser
eterno.
Referências:
¹ - Livro “Mediunismo” – Ramatís/Hercílio Maes – Editora do
Conhecimento;
² - Apostila do curso “Mediunidade de Terreiro”, ministrado
por Géro Maita;
³ - Eclesiastes 3.