O tema abordado nesse post busca fazer uma reflexão sobre os aconselhamentos que ocorrem nos terreiros de Umbanda, a fim de elucidar sobre o real sentido desse trabalho realizado por essa amada religião e seus falangeiros.
O aconselhamento com os Guias espirituais é algo muito comum nos terreiros de Umbanda, na verdade a maioria dos atendimentos disponibilizados pelas casas se resumem a tal trabalho de orientação a encarnados. Claro está que jamais devemos generalizar tal assertiva, tendo em vista que há muitas casas que possuem sua visão mais aberta e vão além de aconselhamentos, utilizando-se de passes, benzimentos, cromoterapia, batimento de ervas, palestras, etc. Porém, tais procedimentos ainda fazem parte do repertório de uma minoria, ficando o aconselhamento como o grande destaque dos trabalhos trazidos pela religião de Umbanda.
Dessa forma, o trabalho de orientação espiritual começou a tomar outras proporções, pois devido a ideia de que os Guias espirituais tem o "dever" de orientar as pessoas que passam por problemas, os trabalhos de aconselhamentos começaram a se transformar em um momento de conversa fútil entre frequentador e Guia, chegando ao ponto de somente um aconselhamento durar mais de 20 minutos.
Importante salientar que os aconselhamentos entre pessoas realmente necessitadas e os Guias é algo totalmente natural, pois é um dos trabalhos que a Umbanda traz em seu seio, porém, não devemos confundir problemas relevantes com situações banais, do cotidiano e que só cabem a nós mesmos, encarnados, resolvermos. Compreendemos que os Guias tem muito a nos orientar e ensinar, devido a sua sabedoria e seu olhar apurado, diante da situação de estarem do outro lado da vida, entretanto, o trabalho de aconselhamento não é mero bate-papo sobre a vida. Podemos identificar esse pensamento nas palavras de Aniceto, no capítulo 46 do livro "Os Mensageiros" de André Luiz, onde o nobre amigo espiritual comenta:
"A solicitação de terapêutica para a manutenção da saúde física, pelos que de fato se interessem pelo concurso espiritual, é sempre justa; todavia, no que concerne a conselhos para a vida normal, é imprescindível muita cautela de nossa parte, diante das requisições daqueles que se negam voluntariamente aos testemunhos de conduta cristã. O Evangelho está cheio de sagrados roteiros espirituais, e o discípulo, pelo menos diante da própria consciência, deve considerar-se obrigado a conhecê-los."
É interessante o que o amigo espiritual nos comenta, pois muitos de nós ainda acreditamos que os problemas do casamento, do trabalho ou da vontade de ter algum bem material se confunde com real estado de necessidade, e então procuramos nos conselhos dos Guias alguma solução, entretanto, os amigos espirituais não estão aqui para nos aconselhar sobre tais situações, e sim sobre reais necessidades ou problemas espirituais. Seguindo a diante no mesmo capítulo citado, o amigo espiritual continua a nos elucidar sobre o assunto, vejamos:
"Possivelmente, vocês objetarão que toda pergunta exige resposta e todo pedido merece solução; entretanto, nesse caso de esclarecer determinas solicitações dos companheiros encarnados, devemos recorrer, muitas vezes, ao silêncio. Como recomendar humildade àqueles que a pregam para os outros; como ensinar paciência aos que a aconselham aos semelhantes, e como indicar o bálsamo do trabalho aos que já sabem condenar a ociosidade alheia? Não seria um contrassenso? Ler os regulamentos da vida para os cegos e para os ignorantes é obra meritória, mas repeti-los aos que já se encontram plenamente informados, não será menosprezo ao valor do tempo?"
Podemos ver que os espíritos que vem nos trazer os conselhos nos terreiros, ou seja onde for, não estão aqui para perder tempo em bate-papos, estão a serviço e desejam auxiliar o máximo de encarnados que desejam ser ajudados, entretanto, não perdem tempo falando sobre coisas que já sabemos, e que ao invés de colocarmos em prática, procuramos que eles nos passem a mão na cabeça, a fim de nos sentirmos mais leves. Compreendemos que os aconselhamentos são diretos, e que tem de haver uma parceria entre encarnado e Guia, onde o consulente recebe o conselho, entretanto, deve se movimentar para que as coisas aconteçam na vida dele, e não esperar que o Guia faça tudo sozinho.
Notamos que quando um Guia comenta ao consulente que o problema da vida dele não andar é devido a ele se encontrar parado sem fazer nada, a pessoa se sente ofendida, e a primeira coisa que vem a cabeça é que, Guia de Umbanda não fala assim, ou que o médium está obsediado, entretanto, o Guia está alertando e aconselhando para que o frequentador comece a modificar seus atos e costumes, a fim de mudar o panorama em que se encontra, e esse sim é o papel do Guia, passar a mão na cabeça da gente quando erramos não nos faz aprender, e será que o benfeitor espiritual cometeria esse erro conosco?
Acreditamos que os aconselhamentos com os Guias são orientações que nos fazem refletir sobre onde erramos e como devemos fazer para não errarmos mais, mas quem decide por qual caminho queremos seguir somos nós mesmos, Guia nenhum nos pega no colo e caminha por nós.
Fonte utilizada: "Os Mensageiros" - André Luiz/ Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) - FEB.
