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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Caboclos e Pretos-Velhos da Umbanda

Salve irmãos de fé, o assunto abordado hoje visa trazer informações sobre os Caboclos e Pretos Velhos da Umbanda, sobre a visão de João Severino Ramos, ex médium da Tenda Espírita São Jorge, uma das sete tendas fundadas pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, o médium de Ogum Timbiri foi vice-presidente da União Espírita de Umbanda e trás informações sobre estes trabalhadores de nossa religião com base nas suas vivências junto do Chefe de nossa amada Umbanda.


CABOCLOS E PRETOS-VELHOS DA UMBANDA – Por João Severino Ramos


Um dos motivos até a pouco afegados por numerosas pessoas espíritas ou não, para justificar as aplicações para forma de trabalhos dentro das Tendas Espíritas de Umbanda dirigidas por Guias “Caboclos”, por elas considerados numa categoria inferior aos que atuam nos demais Centros Espíritas. Sente-se, entretanto, por toda parte, que tais reservas estão desaparecendo diante da surpreendente eficácia das atividades benéficas dos nossos Caboclos e Pretos-Velhos, nos trabalhos nas Tendas de Umbanda, de cura e de desobsessão, realizando não raras vezes em menos de um mês, o que na antiga modalidade científica levaria talvez mais de um ano.

A razão por que tal fenômeno se verifica é que constitui em si mesmo um dos objetivos dessa grandiosa organização espiritual. No presente capítulo desejo elucidar o quanto possível, a natural curiosidade do povo a respeito dessas personalidades por vezes exóticas, em sua forma de falar e de agir, sempre envoltas numa grande modéstia, quando os Caboclos e Pretos-Velhos nos falam de si próprios, atribuindo-se invariavelmente ausência absoluta de conhecimentos mais altos.

A verdade, porém, é que um Espírito “Caboclo” que chegue a obter permissão de incorporar num médium, entre nós, para trabalhar pelo bem do próximo, está muitos graus acima da cultura mais aprimorada de qualquer ente humano por mais sábio que este se julgue (1). E a prova disto é que nenhum homem culto ainda conseguiu “derrubá-los” com a sabedoria, sendo pelo contrário, por eles elucidado sob múltiplos fenômenos cuja causa muitas vezes desconhece.

Os Caboclos e Pretos-Velhos são em geral Espíritos que completaram o seu curso de aperfeiçoamento moral através de sucessivas encarnações na Terra (2), a última das quais teve lugar no recesso das matas seculares, com a finalidade precípua de se familiarizarem com as variadíssimas propriedades terapêuticas da flora americana. Daí uma das razões pelas quais esses bondosos amigos sempre recorrem às plantas medicinais para a cura de moléstias que a atual farmacopeia não consegue debelar.

Sua linguagem simples e ao alcance de todas as inteligências, caracteriza-se algumas vezes pelo exotismo de dialetos absolutamente desconhecidos entre nós, recorrendo esses Espíritos frequentemente à parábola para nos obrigarem a exercitar, desenvolvendo a nossa capacidade de raciocínio. Usando habitualmente desta nas sessões de trabalhos de cura e desobsessão, cuja média de frequência é de pessoas menos cultivadas, os Espíritos chamados Caboclos e Pretos-Velhos podem transformá-la por completo, empregando expressões da mais alta intelectualidade, com uma eloquência e riqueza de imagens capazes de encantar as pessoas de cultura aprimorada. Têm assim, estes abnegados trabalhadores do espaço infinito a faculdade de utilizar a linguagem que melhor se adapte ao ambiente em que tenham de operar.

Casos existem, e não poucos, de médicos notáveis, absolutamente descrentes do Espiritismo, comparecerem às Sessões da chamada Tenda Espírita de Umbanda com a intenção preconcebida de colher argumentos para combater cá fora essa organização que tantos adeptos vêm criando por toda a parte, e, ao cabo de alguns minutos de conversação com o Guia Chefe dos trabalhos, converterem-se sem reservas, tal a sabedoria demonstrada por esses Guias Espirituais, elucidando, os quais sempre nos misteres mais árduos de sua clínica. (3)

E assim se explica o ingresso nos trabalhos das Tendas de Umbanda, nela exercendo abnegadamente elevadas funções mediúnicas, de verdadeiros Espíritos de escol ao serviço da medicina na presente encarnação, cuja clínica grandemente se desenvolveu pelo acerto e precisão. É que, sendo médico um Espírito essencialmente intuitivo, cujo acerto no exercício da profissão tem de depender do grau de desenvolvimento desta faculdade mediúnica, a intuição, o seu ingresso numa organização espiritual, como a de Umbanda, faculta-lhe a aproximação de entidades especializadas na arte de curar, capazes de esclarecê-lo, instruindo-o para o bom êxito da sua elevada missão de curar os enfermos do corpo.

Certo intelectual, escritor e jornalista de mérito, mas curioso, apenas, das coisas transcendentes, lembrou-se de perguntar certa vez a um dos Guias Chefes Espirituais de maior projeção entre nós, que operam sob a forma de Caboclos, qual a razão, a imperiosa necessidade por que assim se manifestam nos médiuns, quando todos sabiam da sua grande elevação espiritual, e do imenso poder que já dispunha entre os abnegados trabalhadores nas Tendas de Umbanda; a entidade interrogada, que pitava no momento o seu charuto, tocou o charuto de leve, a parte acesa sobre a mesa que estava sentada uma pessoa para aliviar a cinza alongada, salivou calmamente para o lado, deixando que a saliva caísse perpendicularmente no recipiente apropriado, e esclareceu:

“Nego; você vai dizer uma coisa para o Caboclo. Se você que é um nego limpo, inteligente e gosta de andar sempre de branco, tiver um serviço a fazer dentro de uma oficina onde os utensílios sejam de natureza grosseira, e cujo ambiente enfumaçado ou impregnado de resíduos graxosos lhe possa sujar o terno; você irá com ele para trabalhar de uma a duas horas por dia nessa oficina? O intelectual respondeu-lhe prontamente: “Está visto que não, nesse caso eu vestiria um macacão apropriado”. “Pois é isto exatamente que nós fazemos, informou o Caboclo. “Para vir trabalhar no meio de vocês, brancos da Terra, nós, por maior que seja a nossa elevação espiritual, preferimos recorrer ao nosso macacão que é o nosso perispírito, de quando fomos Caboclos, para podermos suportar as vibrações grosseiras do vosso ambiente terreno, ainda impregnadas de ódio, inveja, egoísmo, e que só o nosso grande desejo de vos ajudar a melhorá-lo, dá forças para suportar”.

Ai está nessa pequena elucidação, uma síntese perfeita do que são os Caboclos da Linha de Umbanda.

(Texto de João Severino Ramos. Jornal “O Semanário” – 1956 – ano II – número 70 – página 11)

(1) – Vejam que João Severino Ramos comenta que as entidades que recebem a autorização para incorporar e trabalhar na Umbanda são muito mais sábios que o ser encarnado. É curioso vermos dois pontos, primeiro a questão da permissão, por que permissão? É por que a Umbanda, religião fundada pelo senhor Caboclo das 7 Encruzilhadas, estava e ainda está sob o olhar desse abnegado espírito, que comanda essa religião no plano astral, e assim, todos os trabalhadores da Umbanda respondem a esse grande amigo espiritual, que comumente na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade era chamado de “O Chefe”. Quando João Severino Ramos fala que as entidades são mais sábias que os encarnados, temos que entender que para esses espíritos obterem tal permissão para trabalhar era, e ainda é, necessário que os mesmos estudem no plano astral, aprendendo e se preparando para virem a desempenhar tal função ou especialidade em seus trabalhos, por esse motivo, os guias além de enxergarem as coisas com a visão espiritual também possuem grandes conhecimentos e especialidades, frutos de sua dedicação ao estudo e amor ao ser humano.

(2) – João Severino Ramos traça um comentário em seu texto, afirmando que os Caboclos e Pretos-Velhos estão livres da reencarnação, por já terem adquirido a perfeição moral. Devemos aqui entender que esse comentário foi baseado na opinião do próprio autor, e não devemos leva-lo ao pé da letra, pois embora acreditamos sim que existem guias espirituais que não necessitam mais reencarnar no momento atual de provas e expiações que a Terra se encontra, em nossa visão não podemos generalizar, pois acreditamos que isso depende muito, e na verdade é o que menos importa, pois se algum espírito que não necessite mais reencarnar for chamado a desempenhar alguma missão especifica na Terra, como encarnado, ele vai reencarnar por amor à todos nós, o maior exemplo que temos é Jesus, o Nazareno é quem comanda essa embarcação chamada Terra e mesmo assim esteve em carne e osso entre nós. Também acreditamos que não devemos nos apegar à coisas como essas, pois os guias, abnegados que são, não ficarão dizendo se são evoluídos ou não, se necessitam ou não reencarnar, pois sabem que isso só iria insuflar o ego de seus médiuns. Deixemos essa questão de menos importância de lado, e vamos realmente ao que interessa, isto é, aprender com estes sábios e abnegados irmãos que dedicam seu tempo e amor à todos nós.

(3) É citado no texto que os espíritos podem muito bem falar de maneira mais humilde como também de maneira mais culta e intelectualizada, onde o autor do texto comenta que por muitas vezes os espíritos ensinaram médicos sobre a medicina que praticavam. Achamos relevante citar aqui que Pai Antônio, o primeiro Preto-Velho a se manifestar na religião de Umbanda, por seu médium Zélio Fernandino de Moraes, era especialista na arte da cura, e por muitas vezes este nobre espírito em conversação com médicos terrenos, os ensinava e discutia com os mesmos sobre medicina, dando verdadeiras aulas para os mesmos. Vejamos que embora se apresentarem na roupagem humilde de negros ex-escravos, e utilizem trejeitos e modos de falar sem formalismo, os Pretos-Velhos, ou melhor, Pais e Mães Velhos, possuem uma sabedoria incrível, e a usam da simplicidade para trazer sua mensagem simples e humilde e também usam da linguagem técnica para falar com dito mais culto. Não há atraso nessas entidades, mas sim sabedoria, o que é muito diferente.

+Luz naUmbanda