Salve irmãos de fé, o assunto abordado hoje visa trazer informações sobre os Caboclos e Pretos Velhos da Umbanda, sobre a visão de João Severino Ramos, ex médium da Tenda Espírita São Jorge, uma das sete tendas fundadas pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, o médium de Ogum Timbiri foi vice-presidente da União Espírita de Umbanda e trás informações sobre estes trabalhadores de nossa religião com base nas suas vivências junto do Chefe de nossa amada Umbanda.
CABOCLOS E PRETOS-VELHOS DA UMBANDA – Por João Severino Ramos
Um dos motivos até a pouco afegados por numerosas pessoas
espíritas ou não, para justificar as aplicações para forma de trabalhos dentro
das Tendas Espíritas de Umbanda dirigidas por Guias “Caboclos”, por elas considerados
numa categoria inferior aos que atuam nos demais Centros Espíritas. Sente-se,
entretanto, por toda parte, que tais reservas estão desaparecendo diante da
surpreendente eficácia das atividades benéficas dos nossos Caboclos e
Pretos-Velhos, nos trabalhos nas Tendas de Umbanda, de cura e de desobsessão,
realizando não raras vezes em menos de um mês, o que na antiga modalidade
científica levaria talvez mais de um ano.
A razão por que tal fenômeno se verifica é que constitui em
si mesmo um dos objetivos dessa grandiosa organização espiritual. No presente capítulo
desejo elucidar o quanto possível, a natural curiosidade do povo a respeito
dessas personalidades por vezes exóticas, em sua forma de falar e de agir,
sempre envoltas numa grande modéstia, quando os Caboclos e Pretos-Velhos nos
falam de si próprios, atribuindo-se invariavelmente ausência absoluta de
conhecimentos mais altos.
A verdade, porém, é que um Espírito “Caboclo” que chegue a
obter permissão de incorporar num médium, entre nós, para trabalhar pelo bem do
próximo, está muitos graus acima da cultura mais aprimorada de qualquer ente
humano por mais sábio que este se julgue (1). E a prova disto é que nenhum
homem culto ainda conseguiu “derrubá-los” com a sabedoria, sendo pelo
contrário, por eles elucidado sob múltiplos fenômenos cuja causa muitas vezes
desconhece.
Os Caboclos e Pretos-Velhos são em geral Espíritos que
completaram o seu curso de aperfeiçoamento moral através de sucessivas
encarnações na Terra (2), a última das quais teve lugar no recesso das matas
seculares, com a finalidade precípua de se familiarizarem com as variadíssimas
propriedades terapêuticas da flora americana. Daí uma das razões pelas quais
esses bondosos amigos sempre recorrem às plantas medicinais para a cura de moléstias
que a atual farmacopeia não consegue debelar.
Sua linguagem simples e ao alcance de todas as
inteligências, caracteriza-se algumas vezes pelo exotismo de dialetos
absolutamente desconhecidos entre nós, recorrendo esses Espíritos
frequentemente à parábola para nos obrigarem a exercitar, desenvolvendo a nossa
capacidade de raciocínio. Usando habitualmente desta nas sessões de trabalhos
de cura e desobsessão, cuja média de frequência é de pessoas menos cultivadas,
os Espíritos chamados Caboclos e Pretos-Velhos podem transformá-la por
completo, empregando expressões da mais alta intelectualidade, com uma
eloquência e riqueza de imagens capazes de encantar as pessoas de cultura
aprimorada. Têm assim, estes abnegados trabalhadores do espaço infinito a faculdade
de utilizar a linguagem que melhor se adapte ao ambiente em que tenham de
operar.
Casos existem, e não poucos, de médicos notáveis,
absolutamente descrentes do Espiritismo, comparecerem às Sessões da chamada
Tenda Espírita de Umbanda com a intenção preconcebida de colher argumentos para
combater cá fora essa organização que tantos adeptos vêm criando por toda a
parte, e, ao cabo de alguns minutos de conversação com o Guia Chefe dos
trabalhos, converterem-se sem reservas, tal a sabedoria demonstrada por esses
Guias Espirituais, elucidando, os quais sempre nos misteres mais árduos de sua
clínica. (3)
E assim se explica o ingresso nos trabalhos das Tendas de
Umbanda, nela exercendo abnegadamente elevadas funções mediúnicas, de
verdadeiros Espíritos de escol ao serviço da medicina na presente encarnação,
cuja clínica grandemente se desenvolveu pelo acerto e precisão. É que, sendo
médico um Espírito essencialmente intuitivo, cujo acerto no exercício da
profissão tem de depender do grau de desenvolvimento desta faculdade mediúnica,
a intuição, o seu ingresso numa organização espiritual, como a de Umbanda,
faculta-lhe a aproximação de entidades especializadas na arte de curar, capazes
de esclarecê-lo, instruindo-o para o bom êxito da sua elevada missão de curar
os enfermos do corpo.
Certo intelectual, escritor e jornalista de mérito, mas
curioso, apenas, das coisas transcendentes, lembrou-se de perguntar certa vez a
um dos Guias Chefes Espirituais de maior projeção entre nós, que operam sob a
forma de Caboclos, qual a razão, a imperiosa necessidade por que assim se
manifestam nos médiuns, quando todos sabiam da sua grande elevação espiritual,
e do imenso poder que já dispunha entre os abnegados trabalhadores nas Tendas
de Umbanda; a entidade interrogada, que pitava no momento o seu charuto, tocou
o charuto de leve, a parte acesa sobre a mesa que estava sentada uma pessoa
para aliviar a cinza alongada, salivou calmamente para o lado, deixando que a
saliva caísse perpendicularmente no recipiente apropriado, e esclareceu:
“Nego; você vai dizer uma coisa para o Caboclo. Se você que
é um nego limpo, inteligente e gosta de andar sempre de branco, tiver um
serviço a fazer dentro de uma oficina onde os utensílios sejam de natureza
grosseira, e cujo ambiente enfumaçado ou impregnado de resíduos graxosos lhe
possa sujar o terno; você irá com ele para trabalhar de uma a duas horas por
dia nessa oficina? O intelectual respondeu-lhe prontamente: “Está visto que
não, nesse caso eu vestiria um macacão apropriado”. “Pois é isto exatamente que
nós fazemos, informou o Caboclo. “Para vir trabalhar no meio de vocês, brancos
da Terra, nós, por maior que seja a nossa elevação espiritual, preferimos
recorrer ao nosso macacão que é o nosso perispírito, de quando fomos Caboclos,
para podermos suportar as vibrações grosseiras do vosso ambiente terreno, ainda
impregnadas de ódio, inveja, egoísmo, e que só o nosso grande desejo de vos
ajudar a melhorá-lo, dá forças para suportar”.
Ai está nessa pequena elucidação, uma síntese perfeita do
que são os Caboclos da Linha de Umbanda.
(Texto de João Severino Ramos. Jornal “O Semanário” – 1956 –
ano II – número 70 – página 11)
(1) – Vejam que João Severino Ramos comenta que as entidades
que recebem a autorização para incorporar e trabalhar na Umbanda são muito mais
sábios que o ser encarnado. É curioso vermos dois pontos, primeiro a questão da
permissão, por que permissão? É por que a Umbanda, religião fundada pelo senhor
Caboclo das 7 Encruzilhadas, estava e ainda está sob o olhar desse abnegado
espírito, que comanda essa religião no plano astral, e assim, todos os
trabalhadores da Umbanda respondem a esse grande amigo espiritual, que
comumente na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade era chamado de “O Chefe”.
Quando João Severino Ramos fala que as entidades são mais sábias que os
encarnados, temos que entender que para esses espíritos obterem tal permissão
para trabalhar era, e ainda é, necessário que os mesmos estudem no plano
astral, aprendendo e se preparando para virem a desempenhar tal função ou
especialidade em seus trabalhos, por esse motivo, os guias além de enxergarem
as coisas com a visão espiritual também possuem grandes conhecimentos e
especialidades, frutos de sua dedicação ao estudo e amor ao ser humano.
(2) – João Severino Ramos traça um comentário em seu texto,
afirmando que os Caboclos e Pretos-Velhos estão livres da reencarnação, por já
terem adquirido a perfeição moral. Devemos aqui entender que esse comentário
foi baseado na opinião do próprio autor, e não devemos leva-lo ao pé da letra,
pois embora acreditamos sim que existem guias espirituais que não necessitam
mais reencarnar no momento atual de provas e expiações que a Terra se encontra,
em nossa visão não podemos generalizar, pois acreditamos que isso depende
muito, e na verdade é o que menos importa, pois se algum espírito que não
necessite mais reencarnar for chamado a desempenhar alguma missão especifica na
Terra, como encarnado, ele vai reencarnar por amor à todos nós, o maior exemplo
que temos é Jesus, o Nazareno é quem comanda essa embarcação chamada Terra e
mesmo assim esteve em carne e osso entre nós. Também acreditamos que não
devemos nos apegar à coisas como essas, pois os guias, abnegados que são, não
ficarão dizendo se são evoluídos ou não, se necessitam ou não reencarnar, pois
sabem que isso só iria insuflar o ego de seus médiuns. Deixemos essa questão de
menos importância de lado, e vamos realmente ao que interessa, isto é, aprender
com estes sábios e abnegados irmãos que dedicam seu tempo e amor à todos nós.
(3) É citado no texto que os espíritos podem muito bem falar
de maneira mais humilde como também de maneira mais culta e intelectualizada,
onde o autor do texto comenta que por muitas vezes os espíritos ensinaram
médicos sobre a medicina que praticavam. Achamos relevante citar aqui que Pai
Antônio, o primeiro Preto-Velho a se manifestar na religião de Umbanda, por seu
médium Zélio Fernandino de Moraes, era especialista na arte da cura, e por
muitas vezes este nobre espírito em conversação com médicos terrenos, os
ensinava e discutia com os mesmos sobre medicina, dando verdadeiras aulas para
os mesmos. Vejamos que embora se apresentarem na roupagem humilde de negros ex-escravos,
e utilizem trejeitos e modos de falar sem formalismo, os Pretos-Velhos, ou
melhor, Pais e Mães Velhos, possuem uma sabedoria incrível, e a usam da
simplicidade para trazer sua mensagem simples e humilde e também usam da
linguagem técnica para falar com dito mais culto. Não há atraso nessas
entidades, mas sim sabedoria, o que é muito diferente.
+Luz naUmbanda
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