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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Atabaques e Desenvolvimento Mediúnico

Se tornou um costume, na maioria das casas umbandistas, a utilização de atabaques nas suas cerimônias. Se bem tocados, nos emocionamos e nos sentimos imersos nos cânticos umbandísticos; se mal tocados, nos incomodamos pelos ruídos altos e palavras inaudíveis que as vezes presenciamos em algumas giras, seja no momento da abertura ou durante os tratamentos.

É sobre esses aspectos e outros mais que gostaríamos de refletir com todos vocês, no post de hoje!

É do conhecimento da maioria dos adeptos da Umbanda e seus simpatizantes que, desde sua fundação realizada pelo Sr. Caboclo das 7 Encruzilhadas, foram inseridos nos fundamentos e atos ritualísticos desse culto a utilização de "Pontos Cantados", ou seja, preces específicas, passadas pelas entidades através da incorporação ou pela via intuitiva, que seriam utilizadas cantando as mesmas de maneira harmoniosa e audível.

Os pontos cantados tem como base sintonizar o mental de toda corrente mediúnica com as forças sutis e Espíritos que dão sustentação as tarefas realizadas em uma casa. Os pontos servem tanto para evocar determinadas linhagens de espíritos, clamar a força de determinado Orixá, movimentar determinada força da natureza e também, como exemplificamos primeiramente, sintonizar o mental dos frequentadores da casa, caso eles participem da cerimônia de abertura, incorporação dos guias e/ou do fechamento dos trabalhos da casa de Umbanda.

Essa ferramenta que temos na Umbanda é fantástica! Esse fato nos mostra que os Espíritos que arquitetaram e dirigem a Umbanda do astral, detêm amplo conhecimento a cerca do potencial do verbo e magnetismo humano, assim como a força do som e sua atuação a nível energético.

Conseguimos ver também que, conhecendo o psiquismo humano, um tanto quanto frágil, os Espíritos superiores que fundaram a Umbanda, souberam exatamente que a utilização de mantras, preces cantadas, iriam nos auxiliar a manter a concentração nas correntes mentais superiores durante os trabalhos caritativos na seara Umbandista.

Sabiam eles também que a utilização das preces em forma musical, através da nossa força de vontade, concentração e sentimentos elevados que "imprimimos" nas mesmas, tem uma atuação muito salutar sobre todos nossos corpos, desde o físico até o mental.

"As notas e o compasso musical são capazes de influenciar o ser humano, bem como a frequência das ondas produzidas, seja por instrumentos, seja pelo canto e pelos demais sons produzidos pelo homem, carregados de emoção e sentimento.

Quando se trata de cura ou tratamento de alguma enfermidade, tanto os sons quanto as cores estimulam a ocorrência de estados benéficos; no caso dos sons, isso ocorre quando são melodias ou ritmos que propiciem estados elevados da consciência."

Essas informações, passadas pelos Espíritos, são de extrema valia para que entendamos o papel de alguns fundamentos que temos dentro da nossa religião.

O Sr. Caboclo das 7 Encruzilhadas não introduziu a utilização de pontos cantados, cantados de forma harmoniosa, sem utilização de atabaques ou palmas ritmadas, por mera questão de gosto pessoal!

Ele, simplesmente, juntou as necessidades do ser humano que ocupava a nossa terra brasileira, com todas suas tendências mentais e bagagens culturais provindas de cultos afro-brasileiros, católicos, indígenas, orientais, e assim elaborou a melhor maneira de implementar essa ferramenta maravilhosa, que é o ponto cantado.

Pois entramos no ponto que gostaríamos de refletir com vocês nesse post. Se as vibrações causadas através da música, feitas de maneira harmoniosa e com boas intensões, provocam estados mentais e energéticos benéficos para os nossos espíritos, será que quando ocorre ao contrário, não nos prejudicamos?

"Há que ter o cuidado de estudar quais vibrações, quais ritmos desencadeiam esta ou aquela emoção. Corre-se o risco de prejudicar o andamento do trabalho caso se exponha a pessoa a ser tratada a determinado tipo de música sujeita a provocar resistência ou desestímulo ao processo de cura, assim desacelerando a resposta do organismo. Quando o canto é acompanhado de um instrumento de harmonia, em ritmo mais tranquilo e doce - e também quando a pessoa sabe cantar com harmonia -, a música produz um estado de espírito que favorece o tratamento de meus irmãos, na medida em que induz a mente e as células do corpo à recomposição e à reorganização. De outro lado, se a música é cantada de forma desarmônica, o contrário acontece. Ela influencia negativamente a resposta da mente aos estímulos de tratamento a que a pessoa tem sido submetida."

Tendo em vista essas elucidações, questionamos aos irmãos e irmãs que leem esse texto se, nós da seara umbandista, de certa forma, não estamos nos prejudicando com o uso inadequado dos atabaques, que para constar, não foram introduzidos pelo "Chefe" da Umbanda, no primeiro Terreiro de Umbanda, e nem foram aconselhados a sua introdução nas demais Tendas que o mesmo ajudou a criar e expandir.

Quem introduziu os atabaques dentro dos cultos umbandistas foram seus próprios adeptos, que por terem determinada influência religiosa de outros cultos que se utilizavam dessas ferramentas, pela questão de gosto e afinidade, introduziram os mesmos na ritualística umbandista. Também existem os casos daqueles que podem alegar que os guias do seu Terreiro pediram para que introduzissem os atabaques, tendo em vista a necessidade cultural e religiosa das pessoas que iriam compor sua corrente e a assistência, o que é totalmente louvável.

Estamos aqui somente pra refletir sobre alguns aspectos, e não para apontar esse ou aquele terreiro como errado ou certo, ok? Pedimos aos leitores e leitoras, que nos compreendam, e que possam de mente aberta refletirem conosco. Leia até o final do texto, para depois formar suas conclusões, ok?

Acreditamos que, em determinadas situações, tais quais eventos festivos para fins caritativos ou de homenagens, seminários e palestras, ou datas comemorativas relacionadas a determinados Santos sincretizados com os Orixás, pode-se e deve-se utilizar dessas ferramentas que, se utilizadas por pessoas com devido preparo e sensibilidade, produzem um espetáculo emocionante de sons e melodias!

O que nós chamamos a reflexão é para que o médium umbandista, e principalmente o dirigente de uma casa, devem ambos ter bom senso quanto ao momento adequado de utilizar dessa ferramenta nos seus pontos cantados.

"Treinar o canto, cantar com harmonia, no ritmo certo e com melodia adequada ao ambiente são aspectos que podem favorecer estados de consciência elevados; do contrário, a música entoada pode propiciar a melancolia e a tristeza, evocando sentimentos desnecessários ao tratamento que se pretende realizar.

Saber escolher a música certa para cada tipo de tarefa é uma arte que precisa ser fomentada entre meus irmãos. Instrumentos harmônicos - de corda, por exemplo - agem diretamente sobre os chacras superiores, estimulando-os na produção de energias benéficas. Instrumentos de sopro, por sua vez, influenciam os chacras frontal e laríngeo, ajudando a regular o fluxo energético desses importantes centros de força, com repercussões sobre o duplo etérico e o sistema nervoso, ao passo que os de percussão intervêm nos chacras inferiores, especialmente no plexo solar e no esplênico. De acordo com o ritmo e a harmonia produzidos, estes podem ser auxiliares eficazes na regulagem de energias geradas, amplificadas e em transmutação através desses chacras. A união de diversos instrumentos, sempre de maneira harmoniosa, pode se converter em acessório de cura, auxílio e elevação ou, pelo contrário, de viciação mental e emocional, conforme a natureza da música, do ritmo e da vibração emitida."

Diversas dificuldades que casas umbandistas e as pessoas que trabalham ou frequentam a mesma sofrem, poderiam ser evitadas ou minimizadas se atentássemos mais a estas questões do uso correto dos ritmos musicais.

As melodias e sons da natureza, juntamente de instrumentos de corda, sopro e o próprio canto harmonioso, podem atuar nos chacras coronário¹, frontal² e laríngeo³, equilibrando os mesmos, e auxiliando o médium, que normalmente chega no terreiro 15 ou 30 minutos antes da gira, depois de um dia corrido e estressado, para trabalhar com seus guias.

Mas o que costuma ocorrer é, os trabalhadores umbandistas chegam correndo no terreiro, onde mal possuem 15 minutos para se arrumar, colocar o branco e fazer seu recolhimento, quando já ouvimos os atabaques soando, muitas vezes desafinados e com os pontos "gritados", pois espanca-se o atabaque, como se adiantasse algo, e a corrente tem que gritar para que sua voz seja ouvida por eles mesmos. O que há de bom e harmonioso nisso?

Instrumentos de percussão, mesmo que tocados de forma harmoniosa e correta, atuam estimulando os chakras gástrico, esplênico, chakras esses que estão totalmente ligados as nossas emoções e instintos.

Dessa forma o médium que chega agitado no terreiro, ao ouvir o atabaque, na maioria das vezes, vai ser mais estimulado ainda em suas emoções, excitando mais ainda seu potencial anímico.

Tá, e no que isso resulta?

Simples! Excita-se o emocional do médium através das cadências graves do atabaque, e o mesmo confunde emoção sua com energias. Começa a entrar num estado de hiper excitação, juntamente com as energias que circulam a corrente, confunde as mesmas com o envolvimento do "guia" e dá vasão para uma pseudo incorporação, onde o mesmo sai dançando, pulando de joelhos no chão, gritando, batendo no peito e outras coisas mais, achando estar incorporado. Isso é o que mais ocorre nos terreiros de Umbanda, infelizmente!

Podemos estender isso para assistência, que chega no terreiro apressada, em busca do socorro ou resolução dos seus problemas, muitas vezes tendo problemas para aceitar os avisos e recomendações de silêncio que antecedem os trabalhos, ficando ansiosos. Ao ouvirem os atabaques, suas emoções, que muitas vezes se encontram em desequilíbrio, se afloram, são excitadas, e assim vemos as famosas incorporações no meio da assistência, pessoas alegando estar passando mal, choros convulsivos, "irmãosinhos" necessitados se ajoelhando e caindo no chão e por afora vai...

Antes de criticar, pensemos o seguinte, o que seria melhor para mim, como consulente, que estou buscando me conectar com Deus na minha vida e busco uma casa caritativa de Umbanda, para ouvir conselhos de um guia ou receber um passe durante a gira: 1 - ter que brigar com meus ouvidos e os atabaques do terreiro durante minha consulta para ouvir os conselhos, ou, 2 - enquanto uma música suave toca no ambiente, me conectando com a natureza, eu consigo ouvir os aconselhamentos, ou receber os fluidos durante um passe?

O que seria melhor para mim, como médium, que tive um dia corrido, muitas vezes com diversas situações que necessitaram da minha paciência e compreensão: 1 - chegar no terreiro e ter um espaço de tempo para sentir as essências das ervas enquanto ouço os cantos dos pássaros, ondas do mar, as quedas das águas, uma bela música, ou, 2 - mal ter tempo pra rezar quando de repente começam os batuques no atabaque, onde já tenho que começar a dancinha ritualística, bateção de palmas e gritar o ponto?

Existem diversas e diversas fontes de conhecimento, que nos explicam a cerca dessas questões. Existem diversos relatos históricos que nos mostram como a Umbanda começou de forma bem simples, e como ela se encontra hoje, em alguns aspectos bem melhor, mas em outros, abarrotada de ritualísticas que foram sendo inseridas, e que muitas vezes não são tão eficazes, mais perturbando nossa mente e excitando nossas emoções do que realmente ligando nossa mente com as correntes mentais superiores dos guias de bem que nos assistem.

*Obs: Os trechos em itálico foram retirados da obra "A Alma da Medicina", pelo Espírito de Joseph Gleber, através do médium Robson Pinheiro; Casa dos Espíritos Editora.


Nota¹²³: Os chakras Coronário, Frontal e Laríngeo, ambos tem intensa ligação, principalmente o Frontal, com as faculdades medianímicas classificadas por Allan Kardec como "Intelectuais", ou como são chamadas dentro dos estudos da Parapsicologia, fenômenos "Psigama".

Vidência, Audiência, Psicometria, Psicografia, Xenoglossía e outras faculdades mais guardam extrema relação com a atuação e equilíbrio energético dos centros de força que citamos. Portanto, se estes chacras se encontrarem em vibrações mais sutis, em sintonia mais "elevada", através da escolha correta de sons musicais, as tarefas mediúnicas, que envolvem a sintonia dos "Guias" com seus "aparelhos", e sua ação em conjunto, serão mais eficazes e livres de tantas interferências dos médiuns em constante aprimoramento.