Salve salve! Segue no post de hoje a última parte da nossa série de posts sobre a história da Umbanda, falando um pouco sobre nossa amada religião ser genuinamente brasileira, abordando ainda as controvérsias do nome Umbanda e também o seu significado. Confira o fim desta longa jornada na íntegra.
“Em princípios do século XX, num
ambiente essencialmente católico, mais eivado de feitiços e superstições, eclodiu
esse movimento, aproveitando muito dos cultos africanos e nativos, divulgando a
mensagem do Evangelho e totalmente votado à caridade e ao sentimento de
fraternidade entre os homens: a Umbanda.
É comum ouvir-se dizer que
Umbanda foi trazida ao Brasil pelos escravos. Entretanto, o testemunho dos
historiadores nos faz saber que os negros não davam aos seus cultos a
denominação de Umbanda. O vocábulo era praticamente desconhecido entre os
cultores das seitas africanas.
Isso não exclui o papel relevante
que a crença dos negros desempenhou na formação da Umbanda, da qual se
constituiu um dos principais alicerces, dando-lhe, como contribuição primordial
os Orixás.
Negros e Índios tiveram, de
certo, a missão de implantar, em nosso país, as bases sobre as quais se havia
de erguer a mais brasileira de todas as religiões, já que de sua constituição
participaram as três raças que formam o nosso próprio povo.
A Umbanda, em suas práticas,
aproxima-se mais da origem nativa do que da africana. O espiritismo de sua
contribuição, com sua doutrina esclarecedora, reforçando os conceitos da
Reencarnação e da comunicação com os desencarnados, já existentes no culto dos
nativos.
A contribuição católica à Umbanda
deu-se, em grande parte, através do negro, ao qual havia sido imposta a
assimilação do Orixá ao Santo e, também, por influência dos seus primeiros
cultores, afeiçoados à religião dominante na época.
Umbanda é, portanto, o produto de
uma evolução religioso. Suas origens encontram-se nas filosofias orientais –
fonte inicial de todos os cultos do mundo civilizado – e sua implantação, em
nossa terra, deu-se com a fusão de práticas, conceitos e crenças do branco, do
negro e do índio.
O emprego do termo Umbanda pelo
Caboclo das Sete Encruzilhadas, pela primeira vez, para definir um culto
religioso, deu margem a controvérsias, muitos anos após a implantação dos
primeiros templos umbandistas.
Formaram-se duas correntes: Uma
defendendo a origem exclusivamente africana do vocábulo; outra, reportando-se
às raízes bem mais remotas – a expressão sânscrita AUM-BANDHÃ, da terminologia
iniciática do Oriente.
O que se pode constatar é que o
vocábulo, embora existente no idioma africano, não significava culto religioso
e não era de uso corrente nos candomblés nem nas seitas deles descendentes.
No livro que reúne as teses
apresentadas ao 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em
1941, o vocábulo Umbanda é considerado de origem sânscrita: “A raiz mais antiga
de que há registro acerca de Umbanda encontra-se nos “Upanishads”, famosos
livros da Índia”.
WW. Da Mata e Silva, no livro “Umbanda
de Todos Nós”, edição de 1956, págs. 12 e 13 refere-se ao assunto:
“Verifica-se que até os anos de
1900, 1904, 1916 e 1917, os autores, em pesquisas e apurados estudos, na época
em que os Candomblés conservavam-se mais puros, não encontra-se o vocábulo
Umbanda. Era inexistente.”
E prossegue, citando:
“Waldemar Bento, em sua excelente
obra “A Magia no Brasil” (1939) faz um estudo sobre concepções, práticas e
Orixás, inclusive do sincretismo existente na época dos Candomblés e apenas faz
ligeiras referências às linhas de Umbanda;”
“Donald Pierson (“Brancos e
Negros da Bahia, 1945) estuda também Orixás, divindades, crenças, práticas,
apresentando, inclusive, um mapa completo dos principais Orixás do culto
afro-brasileiro, em 1937, tudo muito particularizado. Pois bem, é inexistente a
palavra Umbanda.”
“Roger Bastide, em “Imagens do
Nordeste Místico”, fez observações em inúmeros Candomblés, descrevendo ritos,
costumes, divindades, concepções, etc., positivando 13 modalidades de cultos ou
práticas diferentes, mas não regista uma só vez a palavra Umbanda.”
“Gilberto Freyre, em “Estudos
Afro-Brasileiros”, apresenta um apêndice com 150 termos africanos, muitos de
uso corrente nos Candomblés. Aí também não se encontra a menor referência à palavra
Umbanda.”
É ainda Matta e Silva quem nos
diz:
“Os cultos africanos, há vários
séculos perderam, na própria África, o contato direto com sua fonte original.
Os cultos das várias nações, em suas expressões gerais, jamais usara a palavra
Umbanda.”
“Nina Rodrigues, que serve de
apoio a quase todos os escritores do gênero, em “O Animismo Fetichista dos
Negros da Bahia” (1930) não cita uma só vez a palavra Umbanda.”
“João do Rio (Paulo Barreto), em
sua obra “As Religiões do Rio” (1904), das páginas 1 à 64, em que trata dos
Candomblés, feitiços e etc., não faz nenhuma referência ao termo Umbanda.”
Cavalcanti Bandeira,
reportando-se aos mestres do idioma africano, afirma que o vocábulo provém do
Quimbundo (Angola) e é citado na gramática do prof. José Quintão, como “arte de
curar”, derivado de Kimbanda, curandeiro; e como “arte de curar, magia”, em “O
Kimbundo sem Mestre”, do Padre Domingos Bayão, refere, ainda, em artigo
publicado na imprensa, que no “Dicionário” de A. de Assis Junior, editado em
Luanda, consta Umbanda como magismo, arte de encantar, de curar. Encontrou,
também, uma referência, com a grafia UBANDA, em livro de Frei Bernardo Maria de
Cannecatin, publicado em 1859. E cita Heli de Chatelain, no livro “Folktales of
Angola” (1894) dando à Umbanda o significado de “faculdade de curar por meio de
medicina natural ou sobrenatural”, ou ainda “Os sortilégios que, segundo se
presume, estabelecem e determinam a ligação entre os espíritos e o mundo físico”.
Voltemos a Matta e Silva, que
esclarece em sua obra “Umbanda do Brasil”:
“Toda essa complexa mistura, que
o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas
fetichistas e barulhentas, tudo isso em peno século XX, norteando uma imensa
coletividade que, nos últimos anos, foi denominada como de adeptos dos cultos
afro-brasileiros, era a situação existente quando surgiu vigoroso movimento de
luz, ordenado pelo astral superior, feito pelos espíritos que se apresentaram
como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças. Práticas as mais confusas,
desordenadas, baixas, envolvendo oferendas com sacrifícios de animais, sangue e
etc., e foi por causa disso tudo que se fez imprescindível um novo movimento,
dentro desses cultos ou de sua massa de adeptos, feito pelos espíritos
carmicamente afins a essa massa e pelos que, dentro de afinidades mais
elevadas, se pautam no amor, na ajuda e na renúncia em prol da evolução de seus
semelhantes, foi lançado através da mediunidade e uns e outros, pelos Caboclos
e Pretos Velhos, com nome de Umbanda. O termo Umbanda, que eles implantaram no
meio, para servir de bandeira a essa poderosa corrente, ensinaram que é um
litúrgico, sagrado, vibrado, que significa, num sentido mais profundo, o
conjunto das leis de Deus...”
E, à pág. 35 do mesmo livro,
prossegue:
“O vocábulo Umbanda, que dá
margem a uma série de controvérsias, só pode ser identificado dentro das
qualificadas línguas mortas. Todavia, entre os angolenses, existe o termo
Kimbanda, que significa sacerdote, feiticeiro, invocador dos espíritos, firmado
no radical MBANDA, conservado através de milênios, legado da tradição oral da
raça africana, o qual é uma corruptela do original U-MBANDA, ou AUM-BAN-DHAM...”
“...então comprovamos que Umbanda
é um termo litúrgico, suscitado há cerca de 70 anos e definitivamente
implantado de 50 anos para cá, pelos espíritos que se apresentam como Caboclos
e Pretos Velhos.”
Observa Ramatís, em “Missão do
Espiritismo”:
“A palavra AUM é de alta
significação espiritual, consagrada pelos mestres... BANDHÃ, em sua expressão
mística iniciática, significa o movimento incessante, força centrípeta emanada
do Criador... Em consequência, o prefixo AUM e o sufixo BANDHÃ constituíram a
palavra AUM-BANDHÃ, a qual, pronunciada na forma de um mantram, aproxima-se
melhor da sonorização de OM-BANDA...”
E prossegue Ramatís, às págs.
132/33 do livro supracitado:
“Os africanos praticavam a magia
indistintamente, como um processo de dinamismo e ação no controle das energias
do mundo oculto. Não se distinguem a magia negra como atividade maligna ou a
magia branca, no sentido benfeitor, mas apenas a magia, com os diversos
processos de encantamento e feitiçaria...”
“...Em face dos costumes de
civilização, é inexequível a prática de Umbanda nos moldes e ritualismo genuíno
africano, onde há ritos, oferendas e obrigações bárbaras, que chocam os mais
rudimentares preceitos de higiene, bom senso e compostura humana. Acontece que,
antes dessa denominação de Umbanda, os ritos, despachos e intercâmbios
mediúnicos eram somente conhecidos como Candomblé e macumba, sob o domínio completo
do africano versado na magia grosseira.”
Edson Giraud, estudioso
umbandista, que colaborou, com diversas anotações, observa:
“Já existe um número de
prosélitos, que cultura Umbanda, sob conceituações, ritos, doutrinações, cuja
diferenciação para um sentido mais elevado os distingue como pioneiros da
prática fundamental da Umbanda de amanhã.””
“Origem da Umbanda – Módulo I” –
Padrinho Juruá
E assim, vamos encerrando essa
série de posts sobre a história da Umbanda, que abordou desde o seu início,
demonstrando como surgiu a Umbanda, como também nos informou sobre a segunda
parte da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e encerra elucidando-nos
sobre o nome de nossa religião, mostrando por A mais B que a Umbanda é religião
brasileira, e que embora existisse o nome Umbanda, ele não denominava nenhuma
religião.
Obs.: Todos os posts desta série
foram extraídos de um documentário realizado por Lilia Ribeiro, denominado “Umbanda
– Início de uma longa jornada”, Lilia tinha o objetivo de divulgar a história
da Umbanda e, a fim de ajuda-la nessa missão, buscamos aqui divulgar seu
documentário, que contribui e muito para o nosso aprendizado a cerca da
religião que professamos. Cabe ainda salientar que a história não foi
totalmente detalhada, ela foi trazida de maneira resumida, quem desejar saber
mais ainda sobre a Umbanda, indicamos a obra “História da Umbanda no Brasil” de
Diamantino Fernandes Trindade.