Páginas

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Umbanda - Início de uma longa jornada - Parte IV

Salve salve! Segue no post de hoje a última parte da nossa série de posts sobre a história da Umbanda, falando um pouco sobre nossa amada religião ser genuinamente brasileira, abordando ainda as controvérsias do nome Umbanda e também o seu significado. Confira o fim desta longa jornada na íntegra.


“Em princípios do século XX, num ambiente essencialmente católico, mais eivado de feitiços e superstições, eclodiu esse movimento, aproveitando muito dos cultos africanos e nativos, divulgando a mensagem do Evangelho e totalmente votado à caridade e ao sentimento de fraternidade entre os homens: a Umbanda.

É comum ouvir-se dizer que Umbanda foi trazida ao Brasil pelos escravos. Entretanto, o testemunho dos historiadores nos faz saber que os negros não davam aos seus cultos a denominação de Umbanda. O vocábulo era praticamente desconhecido entre os cultores das seitas africanas.

Isso não exclui o papel relevante que a crença dos negros desempenhou na formação da Umbanda, da qual se constituiu um dos principais alicerces, dando-lhe, como contribuição primordial os Orixás.

Negros e Índios tiveram, de certo, a missão de implantar, em nosso país, as bases sobre as quais se havia de erguer a mais brasileira de todas as religiões, já que de sua constituição participaram as três raças que formam o nosso próprio povo.

A Umbanda, em suas práticas, aproxima-se mais da origem nativa do que da africana. O espiritismo de sua contribuição, com sua doutrina esclarecedora, reforçando os conceitos da Reencarnação e da comunicação com os desencarnados, já existentes no culto dos nativos.

A contribuição católica à Umbanda deu-se, em grande parte, através do negro, ao qual havia sido imposta a assimilação do Orixá ao Santo e, também, por influência dos seus primeiros cultores, afeiçoados à religião dominante na época.

Umbanda é, portanto, o produto de uma evolução religioso. Suas origens encontram-se nas filosofias orientais – fonte inicial de todos os cultos do mundo civilizado – e sua implantação, em nossa terra, deu-se com a fusão de práticas, conceitos e crenças do branco, do negro e do índio.

O emprego do termo Umbanda pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, pela primeira vez, para definir um culto religioso, deu margem a controvérsias, muitos anos após a implantação dos primeiros templos umbandistas.

Formaram-se duas correntes: Uma defendendo a origem exclusivamente africana do vocábulo; outra, reportando-se às raízes bem mais remotas – a expressão sânscrita AUM-BANDHÃ, da terminologia iniciática do Oriente.

O que se pode constatar é que o vocábulo, embora existente no idioma africano, não significava culto religioso e não era de uso corrente nos candomblés nem nas seitas deles descendentes.

No livro que reúne as teses apresentadas ao 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941, o vocábulo Umbanda é considerado de origem sânscrita: “A raiz mais antiga de que há registro acerca de Umbanda encontra-se nos “Upanishads”, famosos livros da Índia”.

WW. Da Mata e Silva, no livro “Umbanda de Todos Nós”, edição de 1956, págs. 12 e 13 refere-se ao assunto:

“Verifica-se que até os anos de 1900, 1904, 1916 e 1917, os autores, em pesquisas e apurados estudos, na época em que os Candomblés conservavam-se mais puros, não encontra-se o vocábulo Umbanda. Era inexistente.”

E prossegue, citando:

“Waldemar Bento, em sua excelente obra “A Magia no Brasil” (1939) faz um estudo sobre concepções, práticas e Orixás, inclusive do sincretismo existente na época dos Candomblés e apenas faz ligeiras referências às linhas de Umbanda;”

“Donald Pierson (“Brancos e Negros da Bahia, 1945) estuda também Orixás, divindades, crenças, práticas, apresentando, inclusive, um mapa completo dos principais Orixás do culto afro-brasileiro, em 1937, tudo muito particularizado. Pois bem, é inexistente a palavra Umbanda.”

“Roger Bastide, em “Imagens do Nordeste Místico”, fez observações em inúmeros Candomblés, descrevendo ritos, costumes, divindades, concepções, etc., positivando 13 modalidades de cultos ou práticas diferentes, mas não regista uma só vez a palavra Umbanda.”

“Gilberto Freyre, em “Estudos Afro-Brasileiros”, apresenta um apêndice com 150 termos africanos, muitos de uso corrente nos Candomblés. Aí também não se encontra a menor referência à palavra Umbanda.”

É ainda Matta e Silva quem nos diz:

“Os cultos africanos, há vários séculos perderam, na própria África, o contato direto com sua fonte original. Os cultos das várias nações, em suas expressões gerais, jamais usara a palavra Umbanda.”
“Nina Rodrigues, que serve de apoio a quase todos os escritores do gênero, em “O Animismo Fetichista dos Negros da Bahia” (1930) não cita uma só vez a palavra Umbanda.”

“João do Rio (Paulo Barreto), em sua obra “As Religiões do Rio” (1904), das páginas 1 à 64, em que trata dos Candomblés, feitiços e etc., não faz nenhuma referência ao termo Umbanda.”

Cavalcanti Bandeira, reportando-se aos mestres do idioma africano, afirma que o vocábulo provém do Quimbundo (Angola) e é citado na gramática do prof. José Quintão, como “arte de curar”, derivado de Kimbanda, curandeiro; e como “arte de curar, magia”, em “O Kimbundo sem Mestre”, do Padre Domingos Bayão, refere, ainda, em artigo publicado na imprensa, que no “Dicionário” de A. de Assis Junior, editado em Luanda, consta Umbanda como magismo, arte de encantar, de curar. Encontrou, também, uma referência, com a grafia UBANDA, em livro de Frei Bernardo Maria de Cannecatin, publicado em 1859. E cita Heli de Chatelain, no livro “Folktales of Angola” (1894) dando à Umbanda o significado de “faculdade de curar por meio de medicina natural ou sobrenatural”, ou ainda “Os sortilégios que, segundo se presume, estabelecem e determinam a ligação entre os espíritos e o mundo físico”.

Voltemos a Matta e Silva, que esclarece em sua obra “Umbanda do Brasil”:

“Toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e barulhentas, tudo isso em peno século XX, norteando uma imensa coletividade que, nos últimos anos, foi denominada como de adeptos dos cultos afro-brasileiros, era a situação existente quando surgiu vigoroso movimento de luz, ordenado pelo astral superior, feito pelos espíritos que se apresentaram como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças. Práticas as mais confusas, desordenadas, baixas, envolvendo oferendas com sacrifícios de animais, sangue e etc., e foi por causa disso tudo que se fez imprescindível um novo movimento, dentro desses cultos ou de sua massa de adeptos, feito pelos espíritos carmicamente afins a essa massa e pelos que, dentro de afinidades mais elevadas, se pautam no amor, na ajuda e na renúncia em prol da evolução de seus semelhantes, foi lançado através da mediunidade e uns e outros, pelos Caboclos e Pretos Velhos, com nome de Umbanda. O termo Umbanda, que eles implantaram no meio, para servir de bandeira a essa poderosa corrente, ensinaram que é um litúrgico, sagrado, vibrado, que significa, num sentido mais profundo, o conjunto das leis de Deus...”

E, à pág. 35 do mesmo livro, prossegue:

“O vocábulo Umbanda, que dá margem a uma série de controvérsias, só pode ser identificado dentro das qualificadas línguas mortas. Todavia, entre os angolenses, existe o termo Kimbanda, que significa sacerdote, feiticeiro, invocador dos espíritos, firmado no radical MBANDA, conservado através de milênios, legado da tradição oral da raça africana, o qual é uma corruptela do original U-MBANDA, ou AUM-BAN-DHAM...”

“...então comprovamos que Umbanda é um termo litúrgico, suscitado há cerca de 70 anos e definitivamente implantado de 50 anos para cá, pelos espíritos que se apresentam como Caboclos e Pretos Velhos.”

Observa Ramatís, em “Missão do Espiritismo”:

“A palavra AUM é de alta significação espiritual, consagrada pelos mestres... BANDHÃ, em sua expressão mística iniciática, significa o movimento incessante, força centrípeta emanada do Criador... Em consequência, o prefixo AUM e o sufixo BANDHÃ constituíram a palavra AUM-BANDHÃ, a qual, pronunciada na forma de um mantram, aproxima-se melhor da sonorização de OM-BANDA...”
E prossegue Ramatís, às págs. 132/33 do livro supracitado:

“Os africanos praticavam a magia indistintamente, como um processo de dinamismo e ação no controle das energias do mundo oculto. Não se distinguem a magia negra como atividade maligna ou a magia branca, no sentido benfeitor, mas apenas a magia, com os diversos processos de encantamento e feitiçaria...”

“...Em face dos costumes de civilização, é inexequível a prática de Umbanda nos moldes e ritualismo genuíno africano, onde há ritos, oferendas e obrigações bárbaras, que chocam os mais rudimentares preceitos de higiene, bom senso e compostura humana. Acontece que, antes dessa denominação de Umbanda, os ritos, despachos e intercâmbios mediúnicos eram somente conhecidos como Candomblé e macumba, sob o domínio completo do africano versado na magia grosseira.”

Edson Giraud, estudioso umbandista, que colaborou, com diversas anotações, observa:

“Já existe um número de prosélitos, que cultura Umbanda, sob conceituações, ritos, doutrinações, cuja diferenciação para um sentido mais elevado os distingue como pioneiros da prática fundamental da Umbanda de amanhã.””

“Origem da Umbanda – Módulo I” – Padrinho Juruá

E assim, vamos encerrando essa série de posts sobre a história da Umbanda, que abordou desde o seu início, demonstrando como surgiu a Umbanda, como também nos informou sobre a segunda parte da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e encerra elucidando-nos sobre o nome de nossa religião, mostrando por A mais B que a Umbanda é religião brasileira, e que embora existisse o nome Umbanda, ele não denominava nenhuma religião.

Obs.: Todos os posts desta série foram extraídos de um documentário realizado por Lilia Ribeiro, denominado “Umbanda – Início de uma longa jornada”, Lilia tinha o objetivo de divulgar a história da Umbanda e, a fim de ajuda-la nessa missão, buscamos aqui divulgar seu documentário, que contribui e muito para o nosso aprendizado a cerca da religião que professamos. Cabe ainda salientar que a história não foi totalmente detalhada, ela foi trazida de maneira resumida, quem desejar saber mais ainda sobre a Umbanda, indicamos a obra “História da Umbanda no Brasil” de Diamantino Fernandes Trindade.