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sexta-feira, 11 de março de 2016

Umbanda e as ditas "incorporações"

Sabemos que a Umbanda vem sofrendo transformações, a era da desinformação e da ignorância vem sendo dissipada frente as luzes do conhecimento trazida pelos espíritos superiores. Diante desta afirmação, buscamos no texto de hoje trazer informações que visam desconstruir certas crenças frente à incorporação dos guias nos terreiros.


Frente a essa desconstrução de valores invertidos que foram inseridos dentro do seio da religião de Umbanda, acreditamos que as informações trazidas abaixo servem tanto para os médiuns como para os frequentadores dos centros e terreiros, isto por que acreditamos que o frequentador deve observar a casa ou centro a que ele se dirige, pois somente após ter confiança de que o centro é comprometido com o bem, de que seu dirigente e médiuns são também pessoas comprometidas com os valores a que dizem professar, e assim obtendo confiança na casa é que ele deve então se colocar a disposição de tratamentos e passes. 

Observe, reflita, amadureça sua ideia a cerca do local, pois só assim saberás se o que irás receber é realmente benfazejo para você.

No texto abaixo Cícero faz perguntas referente a corrente de Umbanda e as manifestações que ocorrem nos centros, vejamos:

"Cícero: - Assim, “meu velho”, desejo que me dê uma ideia da força da Corrente de Umbanda dentro de seus aspectos positivos, reais, em face da mediunidade real que, por certo, há de existir dentro dela.

Preto-velho: - Que Nosso Senhor Jesus Cristo faça a guarda de meu aparelho, pois é por intermédio dele que estou dando estas “Lições” e, portanto, o visado diretamente será ele, em virtude de as verdades que vou dizer contrariem, como das outras vezes, os vaidosos, que não querem a luz esclarecedora, porque essa iria queimar a cegueira, a ignorância de seus irmãos, esses mesmos que eles dominam dessa ou daquela forma. 1

1 – Nota Luz na Umbanda  – É interessante vermos o que o preto velho comenta já no início de sua explanação, pois W.W. da Matta e Silva é até hoje criticado por muitos umbandistas, que não aceitam algumas verdades que são trazidas à tona em seus livros. Esquecem-se também, que o autor e médium teve grande influência na disseminação da Umbanda, tendo extrema importância na história de nossa religião.

Sim, “zi-cerô”. A Corrente astral de Umbanda tem força e tem direitos de execução e de trabalho... movimenta de fato a magia positiva, como nenhuma outra no momento...

A Corrente de Umbanda, “zi-cerô”, é movimentada e sustentada por ordem do Alto, pelos espíritos que se apresentam como “caboclos”, “pretos-velhos” e “crianças”2. Não só firmou o aspecto religioso, filosófico científico e mesmo metapsíquico. Assim é que ficou bem definido que o vértice, a razão de ser e essencial de todo esse movimento, é o dos espíritos sob a forma dos tão decantados “caboclos”, “pretos-velhos”, etc., que passaram a ser, para os humanos interesses, as “pepitas de ouro” que todos querem. E esses espíritos – em espíritos e verdade – dependem, invariavelmente, de faculdade mediúnica de quem as possua de fato, para demonstrarem a potência de suas “ordens e direitos de trabalho”, sempre para o benefício de seus irmãos encarnados e desencarnados, exemplificando o verdadeiro sentido da caridade, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, do qual são humildes trabalhadores.

2 – Nota Luz na Umbanda – Aqui é relatado somente as linhas de Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças, porém, sabemos que a Umbanda atua com diversas linhas de trabalhos, como Baianos, Marinheiros, Exus, etc. Contudo, devemos lembrar que no início da Umbanda tínhamos as três linhas citadas como as principais.

E é por causa dessa dependência mediúnica dos humanos e devido à dificuldade desse material que existem tantas e tantas interpretações errôneas sobre as “manifestações” atribuídas às Entidades de Umbanda. A confusão é grossa e se faz preciso que este “véio” levante mais algumas facetas desse problema.

Note que, além da tremenda confusão que fizeram sobre mediunidade e atuação, complica a situação quando afirmam e pregam que aquela, sendo uma faculdade universal, quer dizer, capaz de ocorrer em qualquer pessoa, define médiuns ou veículos e esses o poderão em qualquer parte, em qualquer ambiente.

E assim mistura médiuns da mesa kardecista no “terreiro” umbandista, dizendo que, se é veículo, tanto dá passividade a irmãos luminares ou sofredores, como os caboclos, pretos-velhos e até mesmo a Exu...

Erro grosseiro esse, que demonstra, tão-somente, a ignorância dos que assim procedem. De princípio, vê-se logo que esquecem a existência de uma lei que preside a tudo – a Lei de Afinidades, que situa as atrações e as repulsões psíquicas ou morais espirituais. Depois, deveriam saber que essa faculdade mediúnica, que é conferida mesmo a qualquer um, surge de acordo com a lei de afinidades, principalmente cármica, e tem predeterminações...

Por tudo isso, você pode deduzir, “zi-cerô”, que, se a mediunidade, em geral, já é uma condição rara, quanto mais na Umbanda!... Aí é que se torna difícil mesmo uma manifestação positiva de “caboclo” ou “preto-velho”! 3

3 – Nota Luz na Umbanda – Devemos refletir sobre o que o Pai Velho quer nos demonstrar, pois nos dias atuais, e já naquele tempo quando este livro foi escrito já era assim, todo mundo quer incorporar, todo mundo quer manifestar através desta faculdade mediúnica, a incorporação, Caboclos, Pretos Velhos, Exus, Boiadeiros, etc., porém, esquecem-se que nem todos são médiuns de incorporação, e não é porquê estão dentro da Umbanda que adquirirão esta faculdade mediúnica que não possuem. E é por causa do desconhecimento do assunto, da falta de preparo e também da falta de comprometimento com a causa, que dirigentes e médiuns acabam por deturpar as manifestações nos terreiros, como vemos na pergunta/resposta seguinte.

Cícero: - Meu velho, mas eu tenho visto, por toda parte, em todos os “terreiros” ou Tendas por onde eu já “girei”, médiuns, às dezenas, manifestados com essas Entidades. Apenas notei ou chamou-me a atenção, o nível dessas manifestações, sempre dentro das mesmas características. O que um faz, via de regra, os outros também fazem. Fumam cachimbo, charutos, dão gritos, fazem trejeitos ou os mesmos gestos, cospem no chão, arregalam os olhos, usam e abusam da mímica e cacoetes, simulam defeitos físicos, principalmente com a perna esquerda, usam o mesmo linguajar, etc., etc. Só queria que me dissesse uma coisa: - será que os verdadeiros espíritos de “caboclos”, “pretos-velhos” e “crianças” são assim mesmo? Baixam sistematicamente dessa maneira?

Preto-velho: - Este “véio” responde a “suncê” fazendo interrogações sutis ao seu conhecimento. Se você pergunta assim é porque, no fundo, tem dúvidas e vê-se que observou sensata e friamente... Então? Será que pode aceitar, em sã consciência, como mediunidade, como legítimas manifestações mediúnicas dos caboclos, pretos-velhos e crianças, essas alterações psíquicas, melhor diria, aberrações psíquicas comuns de “terreiro” e que notou nas criaturas ditas médiuns, ou “cavalos” (até “burros”) quando dão esses gritos, fazem trejeitos ou contorções no corpo, nas faces, sempre com um charuto ou cachimbo na boca, olhos tortos ou esgazeados, usando um linguajar impressionante e decorativo intercalando termos de baixo calão, principalmente as “entidades” sob a forma de crianças... enfim... fazendo tudo isso em nome das Entidades? Será que as verdadeiras manifestações dos Guias e Protetores são invariavelmente assim, nesse estilo, em todos eles?

Não acha que tudo isso não passa de cópia de cópias? Não acha que tudo pode se enquadrar perfeitamente no hábito de tanto ver e repetir a mesma coisa em toda parte?

“Zi-cerô” é lamentável, mas “preto-velho” diz: - por que não tiram DE VEZ os véus ilusórios desses filhos, pelo menos para os que buscam a verdade, mesmo que seja amarga como o fel?

O fato é que você pode qualificar os que se apresentam dentro do exposto, de duas formas: ou estão sendo vítimas de atuação dos quiumbas, ou estão possuídos unicamente por seus cascudos, que são criações anímicas.
Repito, em verdade e mais uma vez: Caboclos, Pretos-velhos e Crianças nunca “baixaram nem baixam” dessa forma.

Cícero: - Bem, “preto-velho”, mas na legítima manifestação dessas Entidades, não se dá, forçosamente, alguma alteração sobre o aparelho?

Preto-velho: - Claro, “zi-cerô”, mas nunca do modo descrito... Certas alterações ocorrem, fisionômicas e até nos órgãos motores, como é o caso dos pretos-velhos, mas sempre são alterações coordenadas, disciplinadas. Sempre revelam o aspecto da expressão positiva, sobre a fisionomia normal do aparelho, máxime na sua parte sensorial ou psíquica. Para lhe dar um exemplo bem claro:
O “preto-velho”, quando “baixa”, não exibe logo o lábio inferior torto (a “beiçola” se me perdoa a expressão), como se com isso quisesse caracterizar um atributo sugestivo e característico da raça negra."


“Lições de Umbanda (e Quimbanda) na palavra de um Preto-Velho”
W.W. da Matta e Silva – ícone Editora.