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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Postura e Roupagem dos Guardiões

Salve a todos! Hoje viemos tratar de um assunto muito confuso no meio espiritualista, e principalmente dentro da Umbanda. Trata-se da postura e da roupagem adotada pelos Guardiões.


"Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, Exu se distraia, 
vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas ali ficavam pouco.
Quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo..."

Livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi

O que nós queremos falar a todos no post de hoje se refere à um trecho desta lenda, onde fala que Exu ficou aprendendo com Oxalá durante 16 (dezesseis) anos. Em cima desta parte, convidamos a todos os leitores a refletirem conosco.

Tendo em vista o aspecto e imagem criado ao longo desses anos de Umbanda a respeito dos Guardiões, um tanto quanto deturpado e distorcido pelos seus adeptos, fieis e também da sociedade em geral, identificamos claramente a necessidade de esclarecer com o pouco que sabemos, a real função dos amados servidores de Deus, os Exus. Fazemos aqui uma pergunta, tendo em vista a lenda que citamos, será que os Exus, Guardiões que nos protegem e trabalham no bem, são ignorantes, ex criminosos, mal educados, viciados e mercenários? Se na própria lenda de Orixá Exu, o mesmo fica aprendendo com o maior dos Orixás durante dezesseis anos, teria fundamento a imagem grotesca que manifestam a respeito de Exu?

O número dezesseis, na cultura nagô/yorubana, representa a perfeição, o atingir da maturidade e da sabedoria, sendo assim, a energia de Orixá Exu, no próprio panteão africano, é uma energia de um Orixá sábio e maduro no que age. Por que então não podemos pegar essa interpretação e aplicá-la na figura dos trabalhadores a serviço desse Orixá, a serviço da Lei e da Justiça Divina, que se manifestam como guardiões e dentro da Umbanda como Exus? Seria Deus, tão imprudente e irresponsável ao ponto de, colocar espíritos representando um Orixá, representando a aplicação da Lei e da Justiça Divina no nosso mundo, sendo estes, marginais, levianos, grosseiros e ignorantes, que desconhecem e destoam totalmente do princípio do Amor, princípio este que rege todo o universo?

Com muita certeza e afinco, acreditamos e sabemos que não é bem assim que as cosias se dão. Se você já teve a triste experiência de presenciar atrocidades cometidas em nome de Exu, fique tranquilo, pois o que você presenciou não passa, na maioria das vezes, de um teatro executado por pessoas e espíritos afins com total ignorância e descaso pelas Leis de Deus, e principalmente, pelos princípios da Lei de Pemba que rege a Umbanda. E você poderia se perguntar nesse instante, o que seriam essas atrocidades? E nós lhes respondemos, seriam, o sacrifício animal, onde em situações ditas mais pesadas são feitas pelas próprias bocas dos médiuns, que bebem o sangue do irmão menor que foi sacrificado, também encontramos, o mercado de feitiços, amarrações, ilusões que são feitas em nome de entidades grotescas que se dizem Exus, onde a lei do livre arbítrio e o bom senso são atropeladas por esses incautos. Ainda dentro dessas atrocidades, vemos a postura leviana, que incita a sexualidade e o erotismo nos médiuns e com a própria consulência que frequenta uma casa deste gênero, onde vemos tais "entidades" utilizando o nome de um falangeiro de Lei, se aproveitando de moças desavisadas, quando não, fazendo propostas de relações sexuais com os mesmos para resolução de problemas.

Os espetáculos e a ignorância são incontáveis, em variados graus é óbvio, mas infelizmente esses que mencionamos ainda são encontrados em grande quantidade por todo o nosso país. As atrocidades mais "leves" nós vemos nos excessos de xingamento, na beberagem, em que o médium serve de "caneco vivo" para um espírito mistificador e vampirizador. Em muitas dessas situações que envolvem a bebida, o médium no final da gira alega que não sente embriaguez nenhuma, o que realmente pode ocorrer, dependendo do vampiro que nele incorporou, mas muitas vezes, alguns desses ditos "médiuns" tem de serem carregados para fora da gira pelos trabalhadores do local. 

Usando do bom senso e esclarecimento, vemos que, essas posturas tomadas em nome de Exu são um ultraje a Deus e a Umbanda, e quem sempre "paga o pato" por essas atitudes são os Exus, nossos queridos Guardiões, que de nada se assemelham à estes espíritos. Queremos agora mostrar um pouco de como esses Guardiões se preparam para realizar o seu trabalho, que se não fosse realizado pelos mesmos, o nosso planeta estaria de "pernas para o ar".

Um espírito, após ser resgatado nos planos astrais, que queira e possa realizar o trabalho de um Exu de Lei dentro da nossa Umbanda, tem por obrigação o preparo e o estudo a cerca de diversas leis naturais que nos regem. Estes espíritos, por aproximadamente oito à dez anos, destrincham as verdades sobre o magnetismo e suas aplicações, estudam a respeito da anatomia humana, o psiquismo humano, aprendem a manipular as essências da natureza e se dedicam nas estratégias e táticas militares, para então, se aprovados, militarem na Umbanda como Exus Coroados.

Agora chamando todos a uma reflexão, após essas breves explicações a respeito dos Exus, os mesmos tomam uma imagem totalmente diferente do que costumamos ouvir e ver por ai, não?

Partindo do princípio em que um espírito só pode se apresentar com uma aparência, ou seja, roupagem fluídica, que já teve quando encarnado, fica difícil de entender o por que da representação de Exu numa figura demoníaca. Fica muito mais fácil de compreender e aceitar a figura de um Exu em uma roupagem, aparência, de um militar, de um guerreiro, em fim, num aspecto que demonstre disciplina e força. Ora! Se Exu é um aplicador da Lei e da Justiça Divina, dependendo da situação, terá que exercer alguma força, ou simplesmente, aparentar um aspecto mais severo, e como representante da Lei, qual figura mais ideal na concepção humana de um ser disciplinado do que, senão, um guerreiro ou um soldado?

Compreendendo tal explanação, podemos sair de um chavão onde estes Guardiões se mostram somente de capa, terno e cartola. Não temos aqui nenhuma oposição quanto aos Guardiões que assim se apresentam, porém, sabemos que não existe somente essa representação e imagem passadas por esses amigos espirituais. Nós entendemos que a entidade que se manifesta como um Guardião vai se utilizar da roupagem fluídica que achar mais conveniente para sua atuação, assim, entendemos que se um espírito que trabalha como um Guardião, em alguma vida fora, por exemplo, um guerreiro egípcio, africano, romano, irá ele se utilizar dessa indumentária, tendo em vista que, em certas situações, onde esses trabalhadores realizam suas tarefas, os mesmos se encontram em zonas perigosas do baixo astral, e que se utilizassem da figura de um padre, por exemplo, seriam atacados sem necessidade.

Como podemos ver, os Exus Coroados que trabalham pela Lei de Umbanda foram devidamente preparados para executarem suas tarefas. Se utilizam de sua roupagem sabiamente, sabendo utilizar a mesma de acordo com a necessidade, sabemos agora, que passam por um processo de aprendizado intenso no plano astral, e são conhecedores de diversos assuntos. Portanto, a ideia de que Exu é um ser ignorante, inferior, mal educado ou que se manifesta em seus aparelhos mediúnicos, tal qual um ser deformado, que geme, anda torto, e não sabe pronunciar palavras, passa longe da concepção real desses trabalhadores fieis. Exu fala com maestria com os mais cultos e se faz entender entre os mais simples, Exu sabe como agir e quando agir. 

"...Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo..."

Salve os amados Guardiões! Laroyê Exu, Exu Omojubá!