Salve queridos leitores, pesquisadores e estudantes da Umbanda, hoje trazemos aqui um texto transcreve as palavras do senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporado em Zélio Fernandino de Moraes, onde ele traça comentários sobre a evolução desta amada religião, que no dia da mensagem completava 63 anos de sua fundação.
“Chegou, chegou, chegou com Deus,Chegou, chegou, o Caboclo das Sete Encruzilhadas”.
Ao meu lado está o Caboclo das
Sete Encruzilhadas, para dizer a vocês que esta Umbanda, tão querida de todos
nós, fez ontem 63 anos. Na Federação Espírita do Estado do Rio, presidida por
José de Souza, conhecido por Zeca, rodeada por gente velha, homens de cabelos
grisalhos, um enviado de Santo Agostinho me chamou para sentar à sua cabeceira.
Havia uma ordem; ele fora jesuíta até aquele momento, chamava-se Gabriel
Malagrida, e, naquele instante iria anunciar a Lei de Umbanda, onde Negros e
Caboclos pudessem se manifestar, porque ele não estava de acordo com a
Federação, que não recebia Negros, nem Caboclos. Pois, se o que existia no
Brasil eram Caboclos, eram nativos, se quem veio explorar o Brasil trouxe para
trabalhar e engrandecer esse país, os negros da costa da África; como uma
Federação Espírita não recebia Caboclos e Negros? Então disse o Espírito: “Amanhã,
na casa de meu aparelho, na Rua Floriano Peixoto, número 30, será inaugurada
uma Tenda Espírita com o nome de Nossa Senhora da Piedade, que se chamará Tenda
de Umbanda, onde o Negro e o Caboclo possam trabalhar”. Houve balbúrdia, embora
eles reconhecessem a minha mediunidade; mas eu era
muito moço, havia completado 17 anos e por doença havia sido levado à Federação
por que os médicos não me davam jeito.
Esse Espírito, que nós chamamos
de Chefe, Caboclo das Sete Encruzilhadas, se manifestou na Federação, chamando
aqueles senhores, todos de cabelos grisalhos, para assistir à primeira Sessão
de Umbanda em minha casa. E o presidente perguntou: “E o meu irmão acredita que
irá ter alguém lá amanhã? A resposta do Caboclo das Sete Encruzilhadas: “colocarei
no cume de cada montanha que circunda Neves, uma trombeta tocando, anunciando a
existência de uma Tenda Espírita onde o Negro e o Caboclo possam trabalhar”. Isso
aconteceu no dia 15 de novembro de 1908. No dia 16 de novembro, a nossa casa
ficou cheia, e posso dizer aos meus irmãos: só o fiz levado por esse Espírito
que é o nosso Guia, porque eu não queria aceitar, estava sem saber, achando uma
coisa extraordinária.
Eu iria assumir a
responsabilidade de ter uma Tenda Espírita, de receber um Guia para fazer com
que os doutores fossem lá buscar a cura para seus entes queridos.
(nota do autor: Agora,
incorporado, o Caboclo das Sete Encruzilhadas continua):
“Meus irmãos, tudo isso se deu. O
meu anunciar da Tenda, foi tomar o meu aparelho e começar a curar aqueles que
estavam lá, fosse por isso, ou fosse por aquilo. Mas Deus, que é sumamente
misericordioso, levou um cego e outras pessoas, como também paralíticos, na
Tenda da Piedade, na minha frente. E eu disse: caminhem, e quando chegarem
perto de mim estavam curados. Passaram-se os anos, e tudo aquilo que eu disse,
apelando para quem está presente e que há muitos anos me acompanha, falando,
seguindo e trazendo exemplos de Jesus quando esteve na Terra, que foram ao seu
encalço pedir harmonia para sua casa, a resposta foi esta: “vocês fechem a boca
para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes
julgados; pensem em Deus, que a paz entrará suas casas”. Tomaram as minhas
palavras como ensinamento, e a Tenda começou a seguir o seu ritmo como eu
desejava. Na década de 1920, com o fim da guerra, eu anunciava que as camadas
negras baixariam ao Planeta Terra, e que em 1968, 1969, esses Espíritos já
estariam encarnados em outros portos e viriam trazer a perturbação a este
Planeta.
A mulher perderia a honra e o
homem o caráter. Entretanto, eu sentia que os tempos se aproximavam e que os
bispos seriam os primeiros a não querer ouvir as ordens emanadas do Vaticano.
Atualmente, nós sabemos o que está se passando pelo mundo inteiro. Já não se
respeita a palavra do Papa, infelizmente. Porque a religião, seja ela qual for,
desde que tenha por base acreditar em Deus, acredito que seja uma religião boa.
Desejar ao seu próximo aquilo que deseja pra si, cumprir os mandamentos da Lei
de Deus, é ser perfeito, e, em qualquer religião, mas principalmente na
religião Espírita, para que o médium seja um instrumento que possa ser tocado
por qualquer Espírito que possa vir trabalhar.
Por isso meus irmãos, criei sete
Tendas na capital da República, no Distrito Federal. A primeira foi criada e entregue
à nossa irmã Gabriela. Mais tarde, dois ou três anos depois, passei para o José
Meirelles, que era um deputado federal que havia ido à Tenda Nossa Senhora da
Piedade em busca da cura de sua filha.
E a resposta do velho Pai
Antonio: “vá à sua casa; no último canteiro, vai mexer a terra e achar umas
raízes. Vai cozinhar as raízes, dar à sua filha e ela estará curada”. Eram
batatas, porque naquela época ainda não haviam florido e ainda estavam embaixo
da terra, cheia de raízes. Foi um esteio, foi um elo, um braço direito para me
ajudar e fazer com que essa Umbanda chegasse ao ponto em que está chegando.
Criei a Tenda de Nossa Senhora da
Guia, de Oxossi, criei a Tenda de Oxalá, a Tenda São Jorge, a Tenda de Xangô, a
Tenda de Santa Bárbara... Finquei sete Tendas. Depois de funcionarem, formadas
essas Tendas, vamos criar a Federação de Umbanda no Brasil. Chamei Hidelfonso
Monteiro, Maurício Marcos de Lisboa, major Alfredo Ramalho, hoje general,
enfim, juntei cinco pessoas para fazermos a Federação de Umbanda no Brasil.
Mais tarde, a Tenda da Piedade
continuou a trabalhar, contando com a assistência deste aparelho por quem falo;
continuou a produzir, a curar, ajudando a uma casa de saúde, pois os médicos
nos procuravam, iam à casa do meu aparelho para saber quais os loucos que
tinham cura, dando os nomes e apontando. E aqueles que eram atuados por
Espíritos, nós afastávamos esses Espíritos e a loucura passava, Mais tarde,
veio então a formação de um jornal, para a divulgação da nossa Umbanda, e para
isso contamos com o secretário da Tenda, Luis Marinho da Cunha, com Leal de
Souza e outros que eram fervorosamente espíritas, pelas coisas que sentiam e
pelas coisas que recebiam pelas graças de Deus.
Meus irmãos, a Umbanda continua.
Nasceu em 1908 na Federação Espírita de Niterói. Hoje a Umbanda está em todos
os Estados; médiuns saíram daqui porque eu não pude levar meu aparelho até lá,
mas levei-o ao Estado de São Paulo, onde criei mais de vinte Tendas, em Minas,
no Espírito Santo... Porque curas foram realizadas e foi necessário criar
Tendas Espíritas da nossa Umbanda querida nesses Estados. A Umbanda tem
progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu
previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a
Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como
Jesus expulsou os vendilhões do templo.
O perigo do médium homem é a
consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre
de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacarem as nossas
casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de
Terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de Terreiro. É preciso haver
muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.
Umbanda é humildade, amor e
caridade – esta é a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, que rodeiam
diversos Espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de
Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por
acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos sejam humildes, tenham amor no
coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais
puras, servindo aos Espíritos superiores que venham a baixar entre vós. É
preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as
virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e
proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.
Meus irmãos: meu aparelho já está
velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei
a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium
aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda.
A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda,
passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus
veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim,
o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi
escolher aquela que havia de ser sua mãe, este Espírito que viria traçar à
humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.
Que o nascimento de Jesus, a
humildade que Ele baixou a Terra, sirva de exemplos, iluminando os vossos Espíritos,
tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas. Que Deus perdoe as
maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos
corações e nos vossos lares.
Fechai os olhos para a casa do
vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis
para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos
Evangelhos.
Eu, meus irmãos, como o menor
Espírito que baixou a Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos
companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade
de cada um de vós e que, ao sairdes deste Templo de caridade, encontreis os
caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre
em vossa matéria.
Com um voto de paz, saúde e
felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo
das Sete Encruzilhadas”.
