Já falamos um bocado da Umbanda trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, trazemos agora o Regimento Interno da Tenda Nossa Senhora da Piedade, a primeira tenda de Umbanda no Brasil, a fim de que possamos compreender um pouco mais como eram tratados e realizados os trabalhos dirigidos pelo "Chefe".
Antes de nos aprofundarmos na leitura dos artigos e nos inteirarmos sobre como eram organizadas e realizadas as atividades na Tenda, queríamos informá-los que no meio do Regimento Interno há notas explicativas e reflexivas sobre a organização da mesma. Tais notas foram trazidas por Cláudio Zeus, que já compunha o artigo que trás o Regimento Interno, contudo, acrescentamos notas nossas, do Luz na Umbanda, a fim de trazer nossa forma de pensar para vocês e incitar a reflexão sobre alguns itens que já tinham importância relevante para as atividades há mais de 100 anos atrás.
Como o regimento interno completo e acrescido dos comentários deram mais de 13 páginas, nós resolvemos dividi-lo em vários posts, a fim de a leitura seja facilitada.
REGIMENTO INTERNO DA TENDA
ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA PIEDADE
A Diretoria da Tenda, usando das
atribuições estatutárias, por ordem e segundo orientação do nosso “Chefe Espiritual”
- O Caboclo das Sete Encruzilhadas - resolveu aprovar o presente Regimento
Interno, a fim de estabelecer a necessária ordem interna e para atender aos
seus associados, trabalhadores e frequentadores, na maior harmonia e o mais
completo aproveitamento dos trabalhos espirituais.
CAPÍTULO I
DAS SESSÕES EM GERAL
Art. 1° - As sessões da Tenda,
que deverão começar às 20 horas e terminar às 22 horas, com a tolerância de 15
minutos no máximo, sobre a hora de encerrar, dividem-se:
Notas: Observemos que havia tempo
determinado para a realização de Sessões. A mim foi explicado, quando de meu
início, que esse tempo visava cautela para com os próprios médiuns, evitando desgastes
desnecessários e muitas vezes nocivos, tanto à saúde física quanto mediúnica
dos mesmos, incluindo-se aí o possível animismo imperante a partir do momento
em que, por estarem cansados, médiuns costumam perder os contatos positivos com
seus protetores, principalmente os de fase consciente. (Cláudio Zeus)
Nota Luz na Umbanda: Isso é
extremamente interessante, pois nos dias atuais existem terreiros que entram
madrugada adentro trabalhando, sem horário certo para o término dos trabalhos. Além
do salutar comentário de Cláudio Zeus, gostaríamos de acrescentar que as
entidades têm muito mais o que fazer, possuem mais compromissos no plano astral
a serem cumpridos, e não estão a nossa disposição para incorporarem conforme
sentimos vontades, por isso existem horários certos tanto para início como para
o fim das atividades em um centro ou terreiro.
a) Sessões de caridade:
b) Sessões de desenvolvimento
mediúnico e de consultas exclusivamente para “trabalhadores do Terreiro”;
c) Sessões especiais;
Nota: Havia orientação para que
se fizessem sessões exclusivas para médiuns e trabalhadores do Terreiro, fossem
elas de atendimento ou de desenvolvimento. Interessante porque você já deve ter
lido sobre isso em alguns de meus textos. (Cláudio Zeus)
Nota Luz na Umbanda: Infelizmente
ainda vemos casas descompromissadas com o desenvolvimento mediúnico de seus
médiuns, deixando os mesmos a mercê de energias e forças ainda desconhecidas
pelos mesmos. O que ocorre é que sem o devido conhecimento o animismo toma
conta, e então vimos os caboclos e demais entidades se manifestando no terreiro
de maneira igual, isso se dá porque os médiuns olham os mais velhos e imitam os
mesmos. Seja de forma inconsciente ou de modo a mistificar, o fato é que há
despreparo dos médiuns. Desta forma, deixamos uma pergunta no ar: Será que é
correto deixar um médium despreparado atuar na vida de pessoas fragilizadas que
buscam os terreiros? Dar aconselhamento com os guias incorporados não é uma
brincadeira, o médium com seu guia interfere na vida de seu semelhante, a
responsabilidade é enorme. Pensemos.
Parágrafo único - Essas sessões
terão lugar:
a) DE CARIDADE (Sessões
públicas).
- Às segundas-feiras - Trabalho
de “Caboclo”;
- Às terças-feiras - Trabalhos de “Pretos
Velhos” e “Caboclos”;
- Às sextas-feiras - Trabalhos de “Pretos
Velhos”.
Para as consultas nesses dias,
serão distribuídas aos assistentes, por ordem cronológica de chegada à Tenda à
partir das 18 horas, cartões numerados com o nome do “Guia”que os deverá
atender.
b) DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO E
CONSULTAS AOS “GUIAS “EXCLUSIVAMENTE PARA TRABALHADORES DO TERREIRO (Sessões
privativas)
1) Só poderão tomar parte nessas
sessões médiuns e cambonos matriculados, não sendo permitidos assistentes nem
consultas por parte dos acompanhantes;
2) Para frequentá-las, torna-se
necessário que o Guia Chefe do Terreiro, após verificar a necessidade de desenvolvimento
mediúnico, encaminhe a pessoa interessada, privativamente, a “Orixá Mallet”
para que este autorize ou não a respectiva matrícula;
3) Essas sessões são divididas em
duas partes:
- 1ª – Das 20 às 21 horas - Trabalho de
desenvolvimento mediúnico;
- 2ª – Das 21 às 22 horas - Consultas aos
“Guias”, exclusivamente para os trabalhadores os quais poderão falar a mais de
um “Guia”, conforme as possibilidades do momento.
Nota: Nota-se claramente nessas
disposições a importância que era dada, tanto a médiuns quanto aos demais
trabalhadores do Terreiro. Isto é muito importante se ter em mente, já que
esses são na realidade, os sustentáculos para os trabalhos que possam vir a ser
realizados – médiuns e trabalhadores (ogãs e demais) mal orientados ou com
problemas particulares e psicológicos acabam atrapalhando mais que ajudando.
(Cláudio Zeus)
c) ESPECIAIS:
Entende-se por sessões especiais:
1 – Sessões do “Chefe” (Sessões
públicas) na primeira Quinta-feira de cada mês. Sessões em que a presença do
Chefe Espiritual era garantida.
2 – Sessões de “descarga” de
“Orixá Mallet” (Sessões privativas). Na Quarta-Feira, véspera da Sessão do “Chefe”,
são privativas dos trabalhadores da Tenda não se permitindo assistentes nem
consultas. Sessões que visavam tirar dos médiuns quaisquer cargas acumuladas
durante os trabalhos em dias de Sessões públicas e mesmo na vida diária.
3 - Sessões de “demanda” (Sessões
privativas) Em dia e hora designados pelo “Guia” que estiver encarregado de
executar e dirigir os trabalhos. Só poderão ser realizadas, com autorização
especial do “Chefe”, a qual será transmitida por “Pai Antônio”, e nela só
poderão tomar parte os trabalhadores e pessoas que foram devidamente escaladas
ou autorizadas pelo referido “Guia”.
4 - Sessões destinadas
exclusivamente ao estudo da doutrina, desenvolvimento de outras mediunidades e aperfeiçoamento
de cambonos, etc. Às quintas-feiras, com exceção da 1ª de cada mês. Só poderão
ser frequentadas por médiuns desenvolvidos e auxiliares, cambonos ou pessoas designadas
pelo “Chefe”, não sendo permitidos assistentes nem consultas por parte dos
acompanhantes.
Nota: Perceba-se que o Caboclo
das Sete Encruzilhadas se preocupava também com o desenvolvimento de outras mediunidades
e não somente a de incorporação e, além disso, preocupava-se também com o
estudo da Doutrina. Mas que Doutrina seria essa? Vamos ver mais à frente. (Cláudio Zeus)
Nota Luz na Umbanda: Muito
interessante e esclarecedor esse item “4”, pois nos mostra que na Umbanda não
tem só incorporação como muitos acreditam, ora! Nem todo mundo possui a faculdade
mediúnica de incorporação, há diversos tipos de faculdades mediúnicas, e o erro
nos terreiros, por puro preconceito, é colocar aqueles que não possuem a
faculdade de incorporação somente como cambonos, não que seja algo indigno ser
cambono (a final sem cambono não tem trabalho), porém, deixa-se de aproveitar
outras potencialidades mediúnicas de uma pessoa só por ela não incorporar, tais
atitudes são fruto da ignorância.
5 - Sessões Festivas (Sessões
públicas):
- Em 20 de Janeiro - de Oxossi (São
Sebastião).
- Em 23 de Abril - de Ogum (São
Jorge).
- Em 13 de Maio - de Pretos Velhos
(Pretos Cativos).
- Em 13 de Junho - de Santo António
e Pai António.
- Em 15 de Setembro - de
aniversário da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.
- Em 27 de Setembro - de Cosme e
Damião (Falange de crianças).
- Em 30 de Setembro - de Xangô (São
Jerônimo).
- Em 16 de novembro - de
aniversário do Chefe.
- Em 04 de Dezembro - de Ynhaçã
(Santa Bárbara).
- Em 08 de Dezembro - de Yemanjá
(Nossa Senhora da Conceição).
São sessões públicas
comemorativas de datas solenes da Tenda e funcionam com horário especial, que
será estabelecido na ocasião pelo Chefe. Nelas poderão participar médiuns e
cambonos de outros Terreiros, desde que a Tenda a que pertençam tenha sido
devidamente convidada.
DA DIREÇÃO DAS SESSÕES
Art. 2° - As sessões serão
dirigidas por um médium ou cambono designado pelo “Chefe”, o qual será
auxiliado pelo cambonos Chefe.
Parágrafo único - São atribuições
do dirigente:
a) Abrir e encerar as sessões;
b) Organizar a mesa nas sessões
de caridade, designando os médiuns auxiliares para compô-la e substituindo-os nas
ocasiões que julgar necessário;
c) Cumprir e fazer cumprir por
parte de todos, indistintamente, os dispositivos previstos nesse Regimento e ordens
em vigor:
d) Resolver todos os casos
omissos que chegarem ao seu conhecimento, quer no plano material, quer no espiritual,
devendo, conforme o caso , dar ciência da solução adotada, na primeira
oportunidade, ao Presidente da Tenda ou ao “Chefe” – Caboclo das Sete
Encruzilhadas;
e) Tomar todas as medidas que
julgar necessárias para o bom andamento da sessão e que não estejam previstas
nesse Regimento, ouvido, na ocasião, o Guia Chefe do Terreiro.
DA REALIZAÇÃO DAS SESSÕES
Art. 3° - As sessões terão início
às 20h00min com o defumador, o qual deverá terminar no máximo às 20h20min, até
quando será permitida a entrada de assistentes e trabalhadores.
Nota: Isso é muito importante de
se anotar porque essa medida visava fazer com que todos os presentes tivessem passado
pela defumação. Acho que não preciso dizer o porquê. (Cláudio Zeus)
Nota Luz na Umbanda: Vejamos que
interessante, havia horário determinado para que os frequentadores pudessem
entrar no terreiro. Hoje já compreendemos que tal atitude evita brechas nos campos
de contenção que envolvem o centro, pois após os guardiões fecharem os campos, a
entrada e saída de pessoas abrem brechas nos mesmos podendo trazer prejuízos
energéticos e também facilitando ataques espirituais nos terreiros. Já
escrevemos um post sobre isso: Clique aqui e leia sobre o assunto!
§ 1° - As exceções do presente
artigo, no qual diz respeito a entrada após às 20h20min, serão da alçada exclusiva
do dirigente da sessão, ouvido o Guia Chefe do Terreiro;
§ 2° - Nas sessões de caridade, a
porta será aberta entre 21h10min e 21h20min, para saída das pessoas já atendidas
e ingresso dos retardatários.
Art. 4° - A abertura dos
trabalhos, que será feita com uma preleção doutrinária conversando,
principalmente, sobre assuntos atinentes à Linha de Umbanda, seguida de prece,
terá a duração máxima de 15 minutos.
Nota Luz na Umbanda: O Caboclo
das Sete Encruzilhadas dava muita importância para a doutrinação dos
frequentadores, ao contrário dos dias atuais, onde estes últimos foram
deseducados pelos próprios umbandistas, indo nos terreiros somente para tomar
passe, como se fosse uma troca ou obrigação, e depois voltam para suas casas, sem
ouvirem nenhuma mensagem que os faça pensar, raciocinar e compreender que a
melhora também depende deles com a modificação de suas posturas.
§ 1° - As consultas e passes só
poderão ter início depois de baixar o Guia Chefe do Terreiro;
§ 2° - Nos dias de
desenvolvimento mediúnico, serão feitas explicações apropriadas sobre pontos
cantados e riscados, durante 20 minutos aproximadamente, sendo prestados, na
ocasião, todos os esclarecimentos que a esse respeito forem solicitados.
Nota: Observe-se mais uma vez que
a preocupação com a boa orientação dos médiuns em desenvolvimento era marca
registrada do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Acredito piamente que ele
entendia muito bem que médiuns, tanto podem ser muito bons para o Terreiro,
quando conscientes de suas responsabilidades e bem preparados, como podem ser
exatamente os pontos fracos por onde o Baixo Astral pode ir tomando conta.
(Cláudio Zeus)
Art. 5° - As sessões de caridade
terminarão, obrigatoriamente, por uma descarga espiritual feita pelo Guia Chefe
do Terreiro.
Parágrafo único: Iniciada essa
descarga, cessarão, imediatamente, as consultas aos Guias no ponto em que estiverem,
não sendo permitido, sob qualquer pretexto, e a quem quer que seja, se dirigir
aos mesmos ou aos demais participantes do Terreiro.
"Origem da Umbanda - Módulo I"
Padrinho Juruá