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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Regimento Interno da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade - Parte I

Já falamos um bocado da Umbanda trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, trazemos agora o Regimento Interno da Tenda Nossa Senhora da Piedade, a primeira tenda de Umbanda no Brasil, a fim de que possamos compreender um pouco mais como eram tratados e realizados os trabalhos dirigidos pelo "Chefe".

Antes de nos aprofundarmos na leitura dos artigos e nos inteirarmos sobre como eram organizadas e realizadas as atividades na Tenda, queríamos informá-los que no meio do Regimento Interno há notas explicativas e reflexivas sobre a organização da mesma. Tais notas foram trazidas por Cláudio Zeus, que já compunha o artigo que trás o Regimento Interno, contudo, acrescentamos notas nossas, do Luz na Umbanda, a fim de trazer nossa forma de pensar para vocês e incitar a reflexão sobre alguns itens que já tinham importância relevante para as atividades há mais de 100 anos atrás.

Como o regimento interno completo e acrescido dos comentários deram mais de 13 páginas, nós resolvemos dividi-lo em vários posts, a fim de a leitura seja facilitada.
REGIMENTO INTERNO DA TENDA ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA PIEDADE

A Diretoria da Tenda, usando das atribuições estatutárias, por ordem e segundo orientação do nosso “Chefe Espiritual” - O Caboclo das Sete Encruzilhadas - resolveu aprovar o presente Regimento Interno, a fim de estabelecer a necessária ordem interna e para atender aos seus associados, trabalhadores e frequentadores, na maior harmonia e o mais completo aproveitamento dos trabalhos espirituais.

CAPÍTULO I

DAS SESSÕES EM GERAL

Art. 1° - As sessões da Tenda, que deverão começar às 20 horas e terminar às 22 horas, com a tolerância de 15 minutos no máximo, sobre a hora de encerrar, dividem-se:

Notas: Observemos que havia tempo determinado para a realização de Sessões. A mim foi explicado, quando de meu início, que esse tempo visava cautela para com os próprios médiuns, evitando desgastes desnecessários e muitas vezes nocivos, tanto à saúde física quanto mediúnica dos mesmos, incluindo-se aí o possível animismo imperante a partir do momento em que, por estarem cansados, médiuns costumam perder os contatos positivos com seus protetores, principalmente os de fase consciente. (Cláudio Zeus)

Nota Luz na Umbanda: Isso é extremamente interessante, pois nos dias atuais existem terreiros que entram madrugada adentro trabalhando, sem horário certo para o término dos trabalhos. Além do salutar comentário de Cláudio Zeus, gostaríamos de acrescentar que as entidades têm muito mais o que fazer, possuem mais compromissos no plano astral a serem cumpridos, e não estão a nossa disposição para incorporarem conforme sentimos vontades, por isso existem horários certos tanto para início como para o fim das atividades em um centro ou terreiro.

a) Sessões de caridade:

b) Sessões de desenvolvimento mediúnico e de consultas exclusivamente para “trabalhadores do Terreiro”;

c) Sessões especiais;

Nota: Havia orientação para que se fizessem sessões exclusivas para médiuns e trabalhadores do Terreiro, fossem elas de atendimento ou de desenvolvimento. Interessante porque você já deve ter lido sobre isso em alguns de meus textos. (Cláudio Zeus)

Nota Luz na Umbanda: Infelizmente ainda vemos casas descompromissadas com o desenvolvimento mediúnico de seus médiuns, deixando os mesmos a mercê de energias e forças ainda desconhecidas pelos mesmos. O que ocorre é que sem o devido conhecimento o animismo toma conta, e então vimos os caboclos e demais entidades se manifestando no terreiro de maneira igual, isso se dá porque os médiuns olham os mais velhos e imitam os mesmos. Seja de forma inconsciente ou de modo a mistificar, o fato é que há despreparo dos médiuns. Desta forma, deixamos uma pergunta no ar: Será que é correto deixar um médium despreparado atuar na vida de pessoas fragilizadas que buscam os terreiros? Dar aconselhamento com os guias incorporados não é uma brincadeira, o médium com seu guia interfere na vida de seu semelhante, a responsabilidade é enorme. Pensemos.

Parágrafo único - Essas sessões terão lugar:

a) DE CARIDADE (Sessões públicas).

- Às segundas-feiras - Trabalho de “Caboclo”;

- Às terças-feiras - Trabalhos de “Pretos Velhos” e “Caboclos”;

- Às sextas-feiras - Trabalhos de “Pretos Velhos”.

Para as consultas nesses dias, serão distribuídas aos assistentes, por ordem cronológica de chegada à Tenda à partir das 18 horas, cartões numerados com o nome do “Guia”que os deverá atender.

b) DE DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO E CONSULTAS AOS “GUIAS “EXCLUSIVAMENTE PARA TRABALHADORES DO TERREIRO (Sessões privativas)

1) Só poderão tomar parte nessas sessões médiuns e cambonos matriculados, não sendo permitidos assistentes nem consultas por parte dos acompanhantes;

2) Para frequentá-las, torna-se necessário que o Guia Chefe do Terreiro, após verificar a necessidade de desenvolvimento mediúnico, encaminhe a pessoa interessada, privativamente, a “Orixá Mallet” para que este autorize ou não a respectiva matrícula;

3) Essas sessões são divididas em duas partes:

- 1ª – Das 20 às 21 horas - Trabalho de desenvolvimento mediúnico;

- 2ª – Das 21 às 22 horas - Consultas aos “Guias”, exclusivamente para os trabalhadores os quais poderão falar a mais de um “Guia”, conforme as possibilidades do momento.

Nota: Nota-se claramente nessas disposições a importância que era dada, tanto a médiuns quanto aos demais trabalhadores do Terreiro. Isto é muito importante se ter em mente, já que esses são na realidade, os sustentáculos para os trabalhos que possam vir a ser realizados – médiuns e trabalhadores (ogãs e demais) mal orientados ou com problemas particulares e psicológicos acabam atrapalhando mais que ajudando. (Cláudio Zeus)

c) ESPECIAIS:

Entende-se por sessões especiais:

1 – Sessões do “Chefe” (Sessões públicas) na primeira Quinta-feira de cada mês. Sessões em que a presença do Chefe Espiritual era garantida.

2 – Sessões de “descarga” de “Orixá Mallet” (Sessões privativas). Na Quarta-Feira, véspera da Sessão do “Chefe”, são privativas dos trabalhadores da Tenda não se permitindo assistentes nem consultas. Sessões que visavam tirar dos médiuns quaisquer cargas acumuladas durante os trabalhos em dias de Sessões públicas e mesmo na vida diária.

3 - Sessões de “demanda” (Sessões privativas) Em dia e hora designados pelo “Guia” que estiver encarregado de executar e dirigir os trabalhos. Só poderão ser realizadas, com autorização especial do “Chefe”, a qual será transmitida por “Pai Antônio”, e nela só poderão tomar parte os trabalhadores e pessoas que foram devidamente escaladas ou autorizadas pelo referido “Guia”.

4 - Sessões destinadas exclusivamente ao estudo da doutrina, desenvolvimento de outras mediunidades e aperfeiçoamento de cambonos, etc. Às quintas-feiras, com exceção da 1ª de cada mês. Só poderão ser frequentadas por médiuns desenvolvidos e auxiliares, cambonos ou pessoas designadas pelo “Chefe”, não sendo permitidos assistentes nem consultas por parte dos acompanhantes.

Nota: Perceba-se que o Caboclo das Sete Encruzilhadas se preocupava também com o desenvolvimento de outras mediunidades e não somente a de incorporação e, além disso, preocupava-se também com o estudo da Doutrina. Mas que Doutrina seria essa? Vamos ver mais à frente. (Cláudio Zeus)

Nota Luz na Umbanda: Muito interessante e esclarecedor esse item “4”, pois nos mostra que na Umbanda não tem só incorporação como muitos acreditam, ora! Nem todo mundo possui a faculdade mediúnica de incorporação, há diversos tipos de faculdades mediúnicas, e o erro nos terreiros, por puro preconceito, é colocar aqueles que não possuem a faculdade de incorporação somente como cambonos, não que seja algo indigno ser cambono (a final sem cambono não tem trabalho), porém, deixa-se de aproveitar outras potencialidades mediúnicas de uma pessoa só por ela não incorporar, tais atitudes são fruto da ignorância.

5 - Sessões Festivas (Sessões públicas):

- Em 20 de Janeiro - de Oxossi (São Sebastião).

- Em 23 de Abril - de Ogum (São Jorge).

- Em 13 de Maio - de Pretos Velhos (Pretos Cativos).

- Em 13 de Junho - de Santo António e Pai António.

- Em 15 de Setembro - de aniversário da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

- Em 27 de Setembro - de Cosme e Damião (Falange de crianças).

- Em 30 de Setembro - de Xangô (São Jerônimo).

- Em 16 de novembro - de aniversário do Chefe.

- Em 04 de Dezembro - de Ynhaçã (Santa Bárbara).

- Em 08 de Dezembro - de Yemanjá (Nossa Senhora da Conceição).

São sessões públicas comemorativas de datas solenes da Tenda e funcionam com horário especial, que será estabelecido na ocasião pelo Chefe. Nelas poderão participar médiuns e cambonos de outros Terreiros, desde que a Tenda a que pertençam tenha sido devidamente convidada.

DA DIREÇÃO DAS SESSÕES

Art. 2° - As sessões serão dirigidas por um médium ou cambono designado pelo “Chefe”, o qual será auxiliado pelo cambonos Chefe.

Parágrafo único - São atribuições do dirigente:

a) Abrir e encerar as sessões;

b) Organizar a mesa nas sessões de caridade, designando os médiuns auxiliares para compô-la e substituindo-os nas ocasiões que julgar necessário;

c) Cumprir e fazer cumprir por parte de todos, indistintamente, os dispositivos previstos nesse Regimento e ordens em vigor:

d) Resolver todos os casos omissos que chegarem ao seu conhecimento, quer no plano material, quer no espiritual, devendo, conforme o caso , dar ciência da solução adotada, na primeira oportunidade, ao Presidente da Tenda ou ao “Chefe” – Caboclo das Sete Encruzilhadas;

e) Tomar todas as medidas que julgar necessárias para o bom andamento da sessão e que não estejam previstas nesse Regimento, ouvido, na ocasião, o Guia Chefe do Terreiro.

DA REALIZAÇÃO DAS SESSÕES

Art. 3° - As sessões terão início às 20h00min com o defumador, o qual deverá terminar no máximo às 20h20min, até quando será permitida a entrada de assistentes e trabalhadores.

Nota: Isso é muito importante de se anotar porque essa medida visava fazer com que todos os presentes tivessem passado pela defumação. Acho que não preciso dizer o porquê. (Cláudio Zeus)

Nota Luz na Umbanda: Vejamos que interessante, havia horário determinado para que os frequentadores pudessem entrar no terreiro. Hoje já compreendemos que tal atitude evita brechas nos campos de contenção que envolvem o centro, pois após os guardiões fecharem os campos, a entrada e saída de pessoas abrem brechas nos mesmos podendo trazer prejuízos energéticos e também facilitando ataques espirituais nos terreiros. Já escrevemos um post sobre isso: Clique aqui e leia sobre o assunto!

§ 1° - As exceções do presente artigo, no qual diz respeito a entrada após às 20h20min, serão da alçada exclusiva do dirigente da sessão, ouvido o Guia Chefe do Terreiro;

§ 2° - Nas sessões de caridade, a porta será aberta entre 21h10min e 21h20min, para saída das pessoas já atendidas e ingresso dos retardatários.

Art. 4° - A abertura dos trabalhos, que será feita com uma preleção doutrinária conversando, principalmente, sobre assuntos atinentes à Linha de Umbanda, seguida de prece, terá a duração máxima de 15 minutos.

Nota Luz na Umbanda: O Caboclo das Sete Encruzilhadas dava muita importância para a doutrinação dos frequentadores, ao contrário dos dias atuais, onde estes últimos foram deseducados pelos próprios umbandistas, indo nos terreiros somente para tomar passe, como se fosse uma troca ou obrigação, e depois voltam para suas casas, sem ouvirem nenhuma mensagem que os faça pensar, raciocinar e compreender que a melhora também depende deles com a modificação de suas posturas.

§ 1° - As consultas e passes só poderão ter início depois de baixar o Guia Chefe do Terreiro;

§ 2° - Nos dias de desenvolvimento mediúnico, serão feitas explicações apropriadas sobre pontos cantados e riscados, durante 20 minutos aproximadamente, sendo prestados, na ocasião, todos os esclarecimentos que a esse respeito forem solicitados.

Nota: Observe-se mais uma vez que a preocupação com a boa orientação dos médiuns em desenvolvimento era marca registrada do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Acredito piamente que ele entendia muito bem que médiuns, tanto podem ser muito bons para o Terreiro, quando conscientes de suas responsabilidades e bem preparados, como podem ser exatamente os pontos fracos por onde o Baixo Astral pode ir tomando conta. (Cláudio Zeus)

Art. 5° - As sessões de caridade terminarão, obrigatoriamente, por uma descarga espiritual feita pelo Guia Chefe do Terreiro.

Parágrafo único: Iniciada essa descarga, cessarão, imediatamente, as consultas aos Guias no ponto em que estiverem, não sendo permitido, sob qualquer pretexto, e a quem quer que seja, se dirigir aos mesmos ou aos demais participantes do Terreiro.

"Origem da Umbanda - Módulo I"
Padrinho Juruá