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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A Arte do Silêncio

(te.le.fo.ne sem fi.o)

1. Brincadeira infantil em que se sussurra no ouvido do companheiro ao lado o que se ouviu antes, de modo que, quando o último contar em voz alta o que ouviu, a palavra ou frase possa ser comparada com a que foi dita inicialmente; TELEGRAMA SEM FIO.
(Fonte: Aulete Digital).
Pode parecer engraçado a maneira que começamos esse post, trazendo a tona uma brincadeira do público infantil, que não é tão divulgada e praticada como antes, mas que, não deixa de ser o hábito predileto do público juvenil/adulto.

Vejamos que esse hábito não é tão engraçado assim, e que em todas as camadas sociais, em todas as nações, sempre acaba por amplificar questões que podiam ou não ser solucionadas com atitudes simples, como por exemplo, o silêncio.

O ser humano se utiliza dessa "brincadeira" todos os dias, onde ao ligar a TV, ou acessar a mídia social do momento, depara-se com uma enxurrada de notícias, que na sua grande maioria, são de teor sexual, violento ou sensacionalista. Infelizmente, são essas as notícias que fomentam mais discussões e chamam a atenção da maior parcela da população.

Não bastando as diversas situações que urgem resposta e atitudes em nossas vidas, dentro das nossas famílias ou de nós mesmos, sempre se arranja um tempo para absorver uma "tragédiazinha" aqui, uma "briguinha" ali, ou quem sabe um "babadinho" sobre a filha(o) do fulano ou ciclano, que tomou todas, peixou o carro, fez barraco e etc.

Sempre arrumamos espaço no nosso mental para guardar alguma "bomba", a qual nós garantirá alguns "bons" minutos de muitos "MÓÓÓÓH!!!!! DEUSULIVRE", "COMO PODE? QUE SEM VERGONHA!!!!", "AI QUE HORROR!!! ESSE MUNDO TÁ PERDIDO!!!", e por aí vai.

Alimentamos um telefone sem fio global, ou sem exagerar, regional. Telefone esse que potencializa a nossa alienação, prendendo nossa atenção em todas as noticias que causem algum tipo de emoção forte em nós, que muitas vezes nos desgasta, ou se tem algo de "divertido", nos nubla os sentidos e perdemos o foco em nossas vidas, passando a prestar atenção na dos outros.

Deixamos de compreender o quanto é forte e impactante o poder de nossas palavras. O quanto que elas significam e podem influenciar a nós mesmos, e além disso, todas as pessoas que convivem ou não conosco.

Com o poder de uma palavra eu posso mudar o dia de uma pessoa, tomando como exemplo, alguém que saiu de casa sob violências verbais ou físicas de seus familiares, pode-se trazer um ótimo "BOM DIA", cheio de carinho e com o olhar de felicidade pra essa pessoa, seguido de um "QUE BOM QUE ESTÁS AQUI", que faria a pessoa mudar um pouco o rumo de suas emoções e pensamentos, quem sabe para melhor.

Se, por acaso, estás a visitar alguém que necessite de auxílio, seja por motivos de saúde, financeiros ou qualquer outro motivo, levares a essa pessoa a tua pessoa, com uma imagem de tranquilidade, equilíbrio, otimismo, nem precisará de muitas palavras pra essa pessoa se contagiar da tua energia.

O "engraçado" é que, a pretexto de caridade e "auxílio humanitário", nós visitamos pessoas que precisam de força, de saúde ou serem ouvidas, cheios de informações doentes, pessimistas, trágicas e sem nenhum conteúdo salutar. Dividimos informações incompletas e mal interpretadas, propagando desinformação para o nosso semelhante, que infelizmente, contribui para a brincadeira do telefone sem fio continuar, consciente ou inconscientemente.

Não sei se cabe dizer isso aqui nesse texto, mas, Leandro Karnal em uma palestra que trazia reflexões a respeito da inveja e da felicidade, nos traz uma afirmativa de um autor que desconhecemos, mas que diz mais ou menos assim: "Quer reconhecer o verdadeiro amigo(a)? Não procure por aqueles que te procuram quando estás doente, pois a doença gera compaixão em muitos. Espere para procurar teus amigos quando falares que estás muito bem de vida, principalmente se eles não estiverem. Analise a reação dos mesmos, e aqueles que ficarem felizes por ti, realmente são seus amigos. Estes serão poucos."

Essa reflexão pode parecer meio desconexa com o tema que estamos tratando, mas ao nosso ver é uma ótima maneira de analisar o comportamento humano, vendo que somos tomados de uma certa paixão/admiração/hipnose pela desgraça, tragédia, morte ou doença.

Escolhemos em nossos assuntos aquilo que é negativo e extremamente divulgado pelos outros, pois gera revolta, polêmica, intrigas, e isso tudo é "excitante". Enquanto, aquilo que estimula nossa confiança, nossa reflexão interna, coisas que demonstram o bem, geralmente não são o foco das atenções, pois são vistas como coisas caretas, ou coisas de sonhador, pois temos que ser realistas.

E temos que ser realistas sim!

E cá entre nós, sendo bem realista mesmo. Na realidade real! MAIS REAL DO UNIVERSO! As pessoas dão mais relevância para as informações que chocam, denigrem, revoltam e irritam, pois se encontram nessa zona mental e emocional.

Isso mesmo! O ser humano dá mais importância a estas questões, pois em sua grande maioria, é o que mais encontra dentro de si, estampado ao seu redor.

O melhor remédio para isso é saber calar, pois, se vemos algo que nos choca, nos toca em emoções não tão legais, devemos refletir sobre aquilo antes de propagar, pois nem "digerimos" a informação direito e ela já nos causou reflexos íntimos negativos.

Se mantivéssemos o silêncio nessas horas que informações graves ou sensacionalistas nos chegam, e refletíssemos sobre as mesmas, conseguiríamos ver se valem ou não o nosso tempo e pensamento, e principalmente, se valem ou não serem divulgadas, pois na maioria das vezes todos já estão sabendo, e se não estão, que bom.

A dificuldade está aí! Saber parar, pensar e analisar se algo que chega a mim, por meio de alguém, da internet ou da TV, realmente vale o investimento do meu tempo, tempo esse que passa e não volta mais. Refletir se as informações que estou adquirindo vão ser construtivas ou não para minha pessoa e para os demais.

Saber dizer não a uma conversa negativa, carregada de achismos e indicações dos possíveis "defeitos" dos outros, que não estão ali para se defender, que muitas vezes mal conhecemos e sequer sabemos de suas dificuldades íntimas. Conseguir encerrar as conversas que já foram inciadas e pegaram um péssimo caminho, através da condução a outros assuntos, ou do simples silêncio, seria maravilhoso.

Vemos que falar, divulgar, propagar, intensificar, quase todos conseguem, mas nem todos conseguem neutralizar, serenar, transformar e melhorar.

O silêncio é uma arte nessas horas! Principalmente se ainda não temos essas capacidades morais e verbais para mudar o rumo de um telefone sem fio, que de brincadeira não tem mais nada.